Ébola:

Risco de fome nos próximos um a dois anos nos países mais afectados

O risco de fome nos próximos um a dois anos é uma das consequências do Ébola para as populações dos países mais afectados pela doença, disse um responsável do Programa Alimentar Mundial.

“O impacto do Ébola vai muito para além do controlo da epidemia e, evidentemente, vai ter um impacto bastante grande nos próximos 12 a 24 meses na segurança alimentar dessas populações, especialmente daquelas que estão fora dos centros urbanos”, declarou à agência Lusa Carlos Veloso, coordenador regional de emergências para a África Ocidental do Programa Alimentar Mundial (PAM)

O português, de 61 anos, que trabalha para agências da ONU desde 1985 falava um dia depois do alerta feito pelo PAM e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) de que a fome pode ameaçar até Março de 2015 mais de um milhão de pessoas nos três países da África Ocidental mais afectados pelo Ébola: Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa. A epidemia daquela febre hemorrágica já causou mais de 6.900 mortos, essencialmente nos três países referidos.

Carlos Veloso explicou que a estigmatização em relação às pessoas com o vírus e a progressão da doença foram impedindo a livre circulação de pessoas e bens, afectando o comércio e a produção de alimentos.

“Visitei uma ilha na Serra Leoa que não teve nenhum caso de Ébola (…) as pessoas tinham peixe, mas não tinham o resto (…) as autoridades do continente recusavam-se a fazer qualquer intercâmbio com eles. Não tiveram casos de Ébola, mas estavam a entrar num período de insegurança alimentar bastante grande”, disse.

“A longo prazo houve um abrandamento, para não dizer estagnação nalguns casos, da actividade económica. Não se plantou, nalguns sítios a colheita não foi feita”, disse.

Além de prestar assistência imediata “às pessoas em isolamento, às famílias das pessoas internadas”, aos sobreviventes quando regressam a casa, o PAM vai trabalhar em colaboração com a FAO na recuperação da produção de alimentos.

“Dá-se as sementes e os utensílios agrícolas e para as pessoas não comerem as sementes garante-se comida durante o período em que a semente é plantada, germina e cresce até à colheita”, disse sobre um dos programas a aplicar nos países em causa Carlos Veloso, que assinalou que a recuperação da capacidade produtiva demora tempo e precisa de apoio exterior.

O responsável do PAM apontou os casos da República Centro Africana, Sudão do Sul e Somália como outras situações de emergência a nível alimentar em África actualmente. Estas são “crises causadas pelo homem, originadas por conflitos”, existindo outras “mais brandas”, mas também com impacto significativo, motivadas pelas condições climatéricas como são os casos do Níger e do Mali.

“Em todos esses países é praticamente da mão para a boca que nós trabalhamos (…) para a comida chegar à boca no dia 01 de Junho, nós temos de receber o dinheiro no dia 01 de Janeiro, porque senão a comida não chega”, adiantou.

Em relação aos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP), a presença do PAM é “muito reduzida, porque não há necessidade, são mais problemas de apoio a longo prazo” e a agência concentra-se “fundamentalmente na educação e na nutrição”, disse Carlos Veloso, evocando programas em Moçambique e “um programa muito pequeno" em São Tomé e Príncipe.

Em Cabo Verde, o PAM teve durante cerca de 30 anos um programa de apoio às escolas que terminou quando o governo assumiu a responsabilidade de o continuar. “É um dos programas que em África é apresentado como um caso de estudo”, referiu.

Fonte: 
LUSA
Nota: 
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