Retinopatia Diabética como causa da diabetes de longa duração
A retinopatia diabética é uma doença oftalmológica associada à diabetes de longa duração, e que consiste numa alteração vascular progressiva, que habitualmente evolui para situação de cegueira.
Esta doença é, ainda, considerada manifestação de uma doença vascular generalizada, que para além de retinopatia, pode causar doença renal, doença coronária e doença arterial oclusiva dos membros inferiores.
Sabe-se que quanto maior for o tempo de evolução da diabetes maior é o risco de se desenvolver retinopatia diabética. Dados indicam que cerca de 50% dos doentes diabéticos desenvolvem a doença ao fim de 20 anos.
No entanto, o tempo de aparecimento e agravamento da doença depende do controlo metabólico (nível de glicémia) e da existência de hipertensão arterial.
Os elevados valores de glicémia – açúcar no sangue – são responsáveis por lesões nos pequenos vasos sanguíneos da retina.
A retinopatia diabética apresenta três fases de evolução: não proliferativa, pré-proliferativa e proliferativa.
Na primeira fase da doença, a chamada retinopatia não proliferativa, as lesões afetam os capilares da retina, que sofrendo algumas alterações na sua forma podem romper e dar origem a pequenas hemorragias. No entanto, habitualmente, esta fase da doença não apresenta queixas.
Na fase pré-proliferativa dá-se a progressão das lesões que caracterizam a fase anterior. É durante esta fase, e dependendo da localização das lesões, que pode ocorrer uma perda significativa e irreparável da visão.
A retinopatia diabética proliferativa, considerada como a última fase da progressão da doença, é irreversível. Hemorragias, glaucoma e descolamento da retina são as complicações mais graves deste processo e que podem conduzir à perda total da visão.
Uma vez que esta doença pode não apresentar sintomas numa fase inicial, há que ter em atenção algumas manifestações:
- sensação de pressão num ou em ambos os olhos;
- incapacidade de ver para um dos lados;
- dificuldade em ler e distinguir pequenos detalhes;
- visão turva;
- visão dupla;
- manchas na visão.
De acordo com os especialistas, a melhor forma de tratar a retinopatia diabética é prevenindo-a. O controlo da diabetes ajudará a reduzir a sua evolução, por exemplo.
No entanto, há outros cuidados a ter como não fumar e vigiar regularmente os valores da tensão arterial e das gorduras no sangue (colesterol).
Além disso, dado que o aparecimento da doença e a sua evolução são variáveis, os diabéticos devem consultar um especialista, pelo menos, uma vez por ano.
Uma vez detetada, a patologia deve ser seguida com maior frequência para que se possa fazer um estudo detalhado da mesma e estabelecer o tratamento adequado.
Atualmente encontram-se disponíveis várias formas de tratamento da retinopatia diabética, com recurso a medicação, que passa pelo controlo dos valores do açúcar no sangue, como já foi referido, controlo da tensão arterial e níveis de colesterol e através da fotocoagulação – uma vez que está provado que a aplicação de laser pode evitar a pressão da retinopatia.
Novo método para identificar alterações na Barreira Hemato-Retiniana
A retinopatia diabética e as doenças vasculares da retina são consideradas as principais causas de perda de visão e estão diretamente relacionadas com a alteração da Barreira Hemato-retiniana – um sistema essencial de proteção da retina localizada nos vasos e no epitélio pigmentar da retina.
Com o aumento da diabetes, estas patologias acabam por ter um grande impacto social.
Uma vez que a medicação para o tratamento destas doenças atua sobre a Barreira Hemato-retiniana, de modo a resultar na sua estabilização, é essencial recorrer à sua monitorização de forma frequente.
Hoje em dia, esta monitorização faz-se através do recurso à angiografia fluoresceína, que consiste na injeção endovenosa de uma substancia de contraste que, sabe-se, comporta alguns riscos.
José Cunha Vaz, investigador da Associação para Investigação Biomédica e Inovação em Luz e Imagem – foi distinguido com o Prémio Pfizer 2015 pelo seu trabalho desenvolvido nesta área, e que consiste num novo método, mais seguro e não invasivo, de localização e quantificação das alterações da Barreira Hemato-retiniana.
“O meu trabalho, e do meu grupo de investigação, tem-se centrado muito na procura de um melhor conhecimento das doenças da retina, principal causa da perda de visão no Mundo Ocidental”, explica.
De acordo com o investigador, a Barreira Hemato-retiniana foi descoberta e identificada em 1966, revelando-se fundamental para a preservação e proteção do funcionamento da retina.
“Em estudos posteriores pudemos demonstrar, utilizando a fluorometria do vítreo, que alterações da Barreira Hemato-retiniana estavam na base das doenças mais frequentes da retina, nomeadamente retinopatia diabética e degenerescência macular ligada à idade”, acrescenta o investigador.
“Neste último trabalho procurámos desenvolver um método baseado na tomografia de coerência ótica que permitisse acompanhar e localizar as alterações da Barreira Hemato-Retiniana nas doenças da retina, a OCT-leakage”, explica.
O objetivo é a substituição da angiografia fluoresceína e a fluorometria do vítreo por um método não evasivo e sem efeitos secundários.
“A OCT-leakage vai permitir, quando implementada na prática clínica, o melhor acompanhamento das alterações da Barreira Hemato-Retiniana e do seu tratamento, permitindo que ele seja mais eficaz e melhor monitorizado”, revela José Cunha Vaz.
De acordo com o investigador, este novo método apresenta vários benefícios: facilidade de realização, eliminar os efeitos secundários da administração endovenosa da substância de contraste, permitir a repetição do exame sem inconvenientes para os doentes (contribuindo para uma melhor monitorização da evolução da doença e do tratamento) e a obtenção de mais informação sobre as diferentes células e camadas da retina lesadas pela alteração da Barreira Hemato-Retiniana.
Relativamente à atribuição do prémio, José Cunha Vaz revela que este é “muito importante pelo reconhecimento associado” e por mostrar que o seu grupo de investigação está no caminho certo e que “o trabalho tem real relevância”.
O investigador espera que, em breve, este novo método possa estar acessível em centros especializados em oftalmologia.