“A resistência bacteriana tem crescido acentuadamente”
O antibiótico é qualquer medicamento capaz de combater uma infeção causada por microrganismos que causam infeções a outro organismo. Não destroem vírus!
O termo antibiótico tem sido utilizado de modo mais restrito para indicar substâncias que atingem bactérias, embora possa ser utilizado em sentido mais amplo contra outros parasitas (protozoários, fungos ou helmintos). Ele pode ser bactericida, quando tem efeito letal sobre a bactéria ou bacteriostático, se interrompe a sua reprodução ou inibe seu metabolismo mas também causa efeitos significativos em doenças causadas por vírus como a gripe.
As primeiras substâncias descobertas eram produzidas por fungos, como a penicilina. Atualmente existem também antibióticos sintetizados ou alterados em laboratórios farmacêuticos para evitar resistências e diminuir efeitos colaterais.
Quando usados corretamente, os antibióticos são medicamentos extremamente úteis. Para além dos efeitos adversos, o uso indiscriminado de antibióticos pode levar ao surgimento de bactérias resistentes.
Os dados estatísticos recentemente publicados sobre o consumo de antibióticos tanto nos Estados Unidos com na União Europeia reportam uma diminuição discreta desse consumo. Como nota positiva para Portugal destaca-se a diminuição no consumo hospitalar de carbapenemos , última linha na terapêutica para estirpes bacterianas multirresistentes. A resistência bacteriana aos antibióticos é atualmente um dos problemas de saúde pública mais relevantes a nível global, dado que apresenta consequências clínicas e económicas preocupantes, estando associada ao uso inadequado de antibióticos.
A resistência bacteriana tem crescido acentuadamente, sendo que as bactérias Gram-positivas mais resistentes aos antibióticos são da espécie Staphylococcus aureus e do género Enterococcus, ao passo que as bactérias Gram-negativas mais resistentes aos antibióticos são das espécies Acinetobacter baumannii, Pseudomonas aeruginosa e da família Enterobacteriaceae.
No mundo inteiro, doenças infeciosas graves estão a ficar resistentes aos antibióticos – principalmente porque estes são usados em excesso para tratar infeções ligeiras. A produção de novos antibióticos está a ocorrer a um ritmo mais lento do que o do surgimento de resistências, deixando poucas alternativas. O seu uso cauteloso por parte dos trabalhadores de saúde e dos doentes será a principal estratégia no combate a essas resistências.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, mais de 50% dos antibióticos são prescritos de forma inadequada o que vem causando resistência à ação dos medicamentos.
Regras gerais para o uso de antibióticos
1. Nunca usar um antibiótico, a não ser que o doente tenha uma infeção bacteriana
2. Usar somente o antibiótico que é recomendado para a infeção que se quer tratar
3. Saber quais são os riscos de utilização do antibiótico
4. Usar o antibiótico somente na dose recomendada
5. Administrar o antibiótico durante o período recomendado
6. Privilegiar a via oral em detrimento da fórmula injectável
Porque se devem usar apenas nas situações recomendadas ?
1. Intoxicações e reações. Os antibióticos não matam apenas as bactérias, mas podem também prejudicar o organismo, por intoxicação ou causando reações adversas;
2. Alterações do equilíbrio natural. Nem todas as bactérias que estão no corpo são prejudiciais. Pelo contrário, algumas são necessárias para o corpo funcionar normalmente. Os antibióticos muitas vezes matam também as bactérias que ajudam o corpo. As pessoas que tomam amoxicilina ou outros antibióticos de largo espectro, durante vários dias, podem ficar com diarreia. Os antibióticos podem matar alguns tipos de bactérias necessárias para a digestão e desta forma prejudicam o equilíbrio natural do intestino;
3. Resistência ao tratamento. A razão mais importante para limitar o uso dos antibióticos é que quando os antibióticos são usados em excesso acaba por ter menos efeito. As bactérias tornam-se resistentes ao antibiótico.
É, assim, necessário adotar estratégias que minimizem a resistência nas espécies em que esta apresenta um nível elevado, ou em que houve um aumento da resistência em anos recentes, tais como o uso adequado de antibióticos no tratamento de infeções causadas por essas espécies e um melhor controlo de infeções hospitalares
Os dados publicados sobre resistências bacterianas são dados recolhidos exclusivamente em meio hospitalar, não tendo sido encontrados dados de resistências recolhidos em cuidados primários. Apesar de considerarmos que as infeções causadas por estirpes resistentes em meio ambulatório são, não raras vezes, tratadas em meio hospitalar, parece-nos ser fundamental a recolha de dados de resistência bacteriana nos cuidados primários.
A promoção da comunicação e do fluxo de informação entre os cuidados primários e os cuidados diferenciados poderá melhorar as medidas de combate ao problema de saúde pública que as resistências bacterianas representam.
Uma outra medida a tomar, com vista a prevenir a emergência e disseminação das resistências bacterianas, é restringir o consumo de antibióticos na prática veterinária e na produção animal, atividades responsáveis pelo consumo inadequado de muitos antibióticos e pela seleção de estirpes resistentes que depois se transmitem para outros animais e para os humanos.