Relação entre radiação para fins médicos e incidência de cancro debatida em Coimbra

A relação entre exposição a radiação para fins médicos e a incidência de cancro é o tema central do Congresso Médico de Imagem e Radioterapia promovido pela Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Coimbra, que decorre na sexta-feira e no sábado.
"Na população pediátrica é mais problemático o impacto da radiação ionizante no sistema biológico das crianças, que são mais radiossensíveis e estão em processo de crescimento", disse Graciano Paulo, presidente do congresso.
Segundo o professor coordenador de Imagem Médica e Radioterapia, estudos efetuados demonstram que crianças submetidas a Tomografia Axial Computorizada (TAC) têm uma taxa de incidência de leucemia "duas a três vezes superior" àquelas que não estiveram sujeitos aos mesmos exames.
No caso das angiografias (exame radiográfico dos vasos sanguíneos), em que técnicos e doentes estão dentro da mesma sala, a incidência de doença oncológica nos profissionais de saúde expostos é também "duas a três vezes superior".
"A comunidade científica tem de criar mecanismos para otimizar procedimentos e apenas prescrever exames em situações clinicamente justificadas para a dose de radiação ser a menor possível", sublinhou Graciano Paulo.
Como exemplo, citou o caso das TAC, em que a radiação a que o paciente está exposto pode corresponder à de 100 radiografias ao tórax.
"É precisar criar esta consciência nos cidadãos e alertar a população e os médicos de que a medicina fez muitos progressos, mas que as técnicas de diagnóstico representam hoje algum risco, pelo que a prescrição de determinados exames deve ser feita com base na evidência científica", frisou.
O especialista Graciano Paulo alertou ainda que é preciso estar muito atento à radiação, salientando que, no caso de tumores erradicados por radioterapia, como a próstata, aparecem já uma "quantidade de tumores em órgãos vizinhos", entre eles o rim.
O Congresso Médico de Imagem e Radioterapia pretende discutir "o estado da arte com o objetivo de adquirir novos conhecimentos, melhorando e maximizando os cuidados prestados aos doentes, de forma a promover melhores cuidados de saúde".
A iniciativa, que substitui o Congresso Internacional de Radiologia iniciado em 2010, espera receber cerca de 250 participantes, entre técnicos de Medicina Nuclear, Radiologia e Radioterapia, médicos e investigadores.
Nos dois dias, o congresso vai abordar temas como dosimetria, comunicação do risco, desafios da radiologia abdominal, desafios da radioterapia, novos horizontes na Medicina Nuclear, radiação ionizante e sistemas biológicos.
Entre os 18 oradores convidados, destacam-se as participações de Donald Frush (EUA), o mentor da campanha mundial "Image Gently", que alerta para a proteção das crianças à exposição à radiação ionizante, John Damilakis (Grécia), presidente da Federação Europeia de Física Médica, Kristoff Muylle (Bélgica), presidente da Associação Europeia de Medicina Nuclear, e Peter Jacob (Alemanha), um dos mais reputados radio epidemiologistas a nível mundial.