A regra é «mover-se mais e sentar-se menos»
Portugal é um país envelhecido. Somos 10,3 milhões de habitantes (concentrados nas zonas urbanas e litorais), com um decréscimo sentido da população. Este decrescimento deriva, essencialmente, de o número anual de mortes ser maior do que os nascimentos, mas também porque, nos últimos anos, tem havido um número crescente – felizmente a diminuir – dos portugueses que emigram.
Olhando para a média de idades, 21 por cento dos portugueses têm 65 ou mais e só 14 por cento tem menos de 15 anos. Há já um milhão de portugueses com 75 ou mais anos. Sim, hoje somos menos, mas vivemos mais (a esperança de vida é superior a 80 anos), e é aqui que temos de confrontar as nossas opções de vida e de saúde, responsavelmente e assumidamente. A saúde é demasiado importante para ficar só nas mãos dos médicos e dos restantes profissionais. A Saúde é de todos!
É por isso que a atividade física tem um papel decisivo no bem-estar das populações. Nas nossas vidas, somos capazes de confirmar que os nossos comportamentos são cada vez menos ativos. No trabalho estamos muito tempo sentados, em casa o comando da televisão ou as novas tecnologias dominam o nosso estar, nas escolas não há ginásios, e os recreios são novos “centros de smartphones” e obituários de brincadeiras ativas. E, depois, os números estão aí: cerca de 10 por cento da mortalidade prematura está associada ao sedentarismo e à inadequação da atividade regular desejável. Como resultado, aumenta a obesidade, acumulam-se as doenças relacionadas, direta ou indiretamente, com o sedentarismo, e agravam-se os custos de saúde que podem estar associados ao absentismo e à redução da produtividade.
A Organização Mundial de Saúde recorda que, num país com cerca de 10 milhões de habitantes, em que 50 por cento da população é insuficientemente ativa, o custo anual do sedentarismo atinge os 900 milhões de euros, ou seja, 9 por cento do orçamento do Ministério da Saúde português. E não estamos a ser pessimistas. Em Portugal, de acordo com o Eurobarómetro de 2017, apenas 5 por cento dos portugueses com 15 anos ou mais praticavam regularmente exercício ou desporto, e também só 5 por cento declarou que fazia, habitualmente, outras atividades físicas, como andar de bicicleta. E muitos mais números existem para descrever a realidade de que os portugueses se tornaram, inconscientemente, “treinadores de bancada”.
Mas esta realidade pode mudar. Ser ativo e persistente é, no início, escolher uma atividade que goste, que esteja adaptada à sua vida e ao momento que melhor lhe aprouver. Há várias maneiras de atingir a quantidade certa de exercício que, inicialmente, deve ser moderado. Todas as pequenas atividades contam. Fazer alguma coisa é melhor que não fazer nada. Comece por fazer o que for capaz, depois tente melhorar, progressiva e continuamente. Não desista, mas se for sedentário, comece devagar e depois vá aumentando o tempo e a frequência da atividade física.
Há muitas maneiras de atingir a quantidade certa de exercício (mais ou menos 150 minutos de atividade moderada semanal). Caminhar é, normalmente, uma boa opção: nas primeiras duas semanas, 10 a 15 minutos por dia e, depois, vá juntando mais tempo e mais dias na semana, com caminhadas progressivamente maiores. Aí já poderá acelerar e fazer caminhadas mais enérgicas. Ou diversificar, como por exemplo ensaiar passeios de bicicleta aos fins de semana. E não se esqueça de incluir a família e os amigos.
Tenha em atenção que alguns dos benefícios em saúde, que são muitos, começam a sentir-se imediatamente (não todos, claro), após o exercício, e é por isso que mesmo episódios curtos ou pequenos de atividade física são benéfico e ocorrem tanto em homens como em mulheres, crianças e jovens, adultos mais velhos, ou pessoas com doenças ou deficiências crónicas.
Lembre-se que o mais importante é mover-se mais e sentar-se menos, pela sua saúde.
Dr. Pedro Marques da Silva - Internista e Coordenador do NEPRV