Quase 60% de enfermeiros afirmam trabalhar demasiado depressa e sob pressão
Uma parte significativa dos enfermeiros inquiridos num estudo realizado por um investigador da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC) revela que, “durante a maioria do tempo” em que exerce actividade, “trabalha demasiado depressa e sob pressão, tentando fazer muito”.
São 59% os profissionais – de uma amostra de 926 enfermeiros com domicílio profissional hospitalar na área de jurisdição da Secção Regional do Centro da Ordem do Enfermeiros – que o afirmam, sendo que “somente 46% garante que nunca se sacrifica a segurança do doente quando há mais trabalho”, destaca o autor do estudo de doutoramento, professor António Manuel Fernandes.
De acordo com o levantamento feito pelo docente da ESEnfC, “a cultura de segurança do doente apresenta-se como um factor crítico da qualidade dos cuidados de saúde hospitalares e a necessitar de melhoria”.
Os dados recolhidos pelo investigador António Manuel Fernandes mostram que a maioria das dimensões da cultura de segurança do doente, entendida como um modelo de comportamentos tendente e minimizar os danos nos pacientes que podem resultar da prestação de cuidados, apresenta debilidades.
O professor da ESEnfC nota, por exemplo, que “as dotações de enfermeiros identificadas são medianamente comprometidas com a sua missão de segurança profissional e dos doentes, correndo um sério risco de não a garantirem, uma vez que revelam debilidades nos seus aspectos de cariz qualitativo e são deficitárias no provimento de horas de cuidados de Enfermagem necessárias, registando-se um défice médio de 23%”.
Também “o compromisso do hospital com os enfermeiros e a Enfermagem, a existir, é pouco sentido por estes profissionais”, que “tão-pouco sentem que o seu esforço e perícia sejam adequadamente reconhecidos e recompensados”, acrescenta António Manuel Fernandes.
Excepção positiva nos factores que dão forma à cultura de segurança do doente é a dimensão “cooperação/trabalho em equipa dentro das unidades/serviços”, perspectivada pelos enfermeiros como um aspecto forte.
Salienta o professor António Manuel Fernandes que “a cultura de segurança do doente identificada neste estudo é caracterizada pelo paradigma da culpabilização e punição – com os profissionais convictos de que, quando notificados, são eles o centro da atenção e não o incidente/evento e preocupados que este seja registado no processo pessoal, podendo ser usado contra si – e pelo paradigma da ocultação do erro e do evento adverso”.
Para o investigador da ESEnfC, “confirma-se que contextos clínicos, quaisquer que eles sejam, com dotações em enfermagem qualitativamente mais seguras, particularmente onde se promove equilíbrio de competências e supervisão de cuidados e, sobretudo, se fomenta um bom ambiente relacional entre profissionais clínicos, com estimulação da autonomia profissional, contribuem para a existência de níveis inferiores de riscos clínicos”.
O estudo do professor António Manuel Fernandes, intitulado “Dotação segura em Enfermagem e a cultura de segurança: subsídios para a segurança do doente”, foi realizado entre Setembro de 2011 e Novembro de 2013.