Astenopia Digital resulta de utilização prolongada

Quadro de fadiga ocular afeta 90% dos utilizadores de dispositivos electrónicos

Atualizado: 
28/04/2017 - 17:01
Visão turva para perto e lentidão a focar para longe, ardor ocular, comichão ou intolerância à luz são alguns dos principais sintomas da Astenopia Digital. Um quadro de fadiga ocular, que tem vindo a aumentar com o uso crescente de dispositivos electrónicos – computadores e smartphones - e que atinge qualquer grupo etário.

A fadiga visual é um problema que se estima que afeta sete em cada 10 portugueses. O alerta é dado pelo Grupo Português da Ergoftalmologia da Sociedade Portuguesa de Oftlamologia, que indica a utilização de dispositivos digitais como a principal causa.

“A utilização crescente de dispositivos electrónicos – computadores, tablets, smartphones e videojogos – está associado a um maior esforço de visão para perto, acarretando um aumento das exigências de focagem para essa distância, uma perpetuada convergência dos olhos e uma maior atenção visual com consequente diminuição do pestanejo”, começa por explicar Fernando Trancoso Vaz, coordenador do Grupo Português da Ergoftalmologia da SPO.

De acordo com este especialista, quando este esforço é mantido por mais de três horas pode surgir “a falência dos mecanismos de adaptação, com exaustão dos músculos oculares (intrínsecos e extrínsecos) e, subsequentemente, a fadiga ocular”.

Os principais sintomas desta síndrome encontram-se dividos em três grupos: sintomas visuais, sintomas musculares (que surgem por má postura ou sobrecarga do músculo ciliar) e sintomas relacionados com olho seco evaporativo. 

Visão turva para perto e lentidão a focar para longe, dor de cabeça, peso nos olhos e nas pálpebras, dores nos músculos do pescoço e costas, olho vermelho, secura ou ardor ocular, irritação ou intolerância à luz são descritos como sintomas mais comuns da fadiga ocular.

Regra geral, porém, não existe patologia sistémica associada a este quadro. A sua origem é multifatorial, podendo ser causado por perturbações do utilizador, “por maior exigência da tarefa a realizar e condições ambientais irregulares”.

Entre as causas relacionadas com o utilizador destacam-se “os erros refrativos por corrigir, alterações da acomodação ou do equilíbrio oculomotor latentes” e que exigem observação em consulta de oftalmologia.

Tarefas realizadas a distâncias muito próximas e durante um período longo de tempo são igualmente prejudiciais.

Por outro lado, tal como explica o especialista, o uso constante de ventoinhas ou ar condicionado, a pouca ou incorreta iluminação bem como “posição incorreta do utente e/ou do dispositivo electrónico” contribuirá para o agravamento dos sintomas.

90% dos utilizadores apresentam queixas

Apesar de não existiram dados nacionais que demonstrem a sua incidência, sabe-se, com base nos dados do National Institute for Occupational Safety and Healh”, que 90% dos utilizadores com queixas desta síndrome utilizam dispositivos eletrónicos mais do que três horas por dia”, podendo afetar qualquer grupo etário. “Sendo talvez mais frequente no utilizadores que estão no ativo do ponto de vista profissional”, refere o especialista

De acordo com Fernando Trancoso Vaz, “está em curso um estudo da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, emparceria com a Théa e uma empresa de teleperformance Konecta, para avaliar essa realidade, e se as medidas descritas como preventivas/corretoras são realmente eficazes como acreditamos que sejam”.

Pausas regulares, o uso de lágrimas artificiais, a correção do erro refrativo ou outras alterações oftalmológicas são apontadas como medidas essenciais para evitar este quadro. No entanto não são as únicas a ter em conta para manter a saúde ocular.

Segundo o especialista, o utilizador deve “a cada 20 minutos deviar o olhar 20 segundos para uma distância de 20 pés (6 metros)” o que lhe permite, não só, relaxar o músculo ciliar, como aumentar o pestanejo e fornecimento de lágrimas.

Por outro lado, de modo a minimizar ou atenuar os sintomas, “e assim não restringir o número de horas diárias de utilização de dispositivos eletrónicos”, deve “utilizar com maior distância os smartphones e tablets, reposicionar o computador (olhos ao nível do topo do ecrã) e alterar o brilho e contraste do ecrã, para se tornar confortável e para que a luz nunca esteja de frente para os olhos”

O coordenador do Grupo Português de Ergoftalmologia aconselha ainda a reduzir o ar condicionado “para aumentar a humidade no ambiente”.

“Todas estas medidas permitem minimizar ou anular a sintomatologia. Se, contudo, o utilizador deixar de as cumprir, voltará a surgir o incomodo inicial”, adverte acrescentando que estas queixas são habitualmente transitórias não dando origem a outras complicações.

“Esta síndrome não é causa de erro refrativos (necessidade de óculos), mas se eles existirem e não forem corrigidos, a sintomatologia será mais exuberante”, reforça.

 

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
ShutterStock