Proteger médicos de violência com alteração legislativa
Carlos Cortes quer iniciar um movimento que "possa agregar todas as organizações", desde associações de utentes a outras ordens profissionais, para se combater a violência contra profissionais de saúde e criar mecanismos de proteção dos mesmos.
Segundo o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM), "tem de haver uma alteração legislativa profunda para corresponder às necessidades", assim como uma "maior preocupação" por parte do Ministério da Saúde e dos responsáveis dos hospitais para com esta temática.
Neste momento, o profissional de saúde "está completamente sozinho", quando tem de lidar com uma situação de agressão física ou psicológica, não havendo "nada que obrigue as instituições a defender os seus profissionais como o deveriam fazer", sublinhou Carlos Cortes, que falava durante uma conferência de imprensa, em Coimbra, de apresentação de uma campanha de prevenção e intervenção sobre o ‘burnout' e sobre a violência contra profissionais de saúde no local de trabalho.
A SRCOM já realizou duas reuniões no sentido de organizar um movimento, assegurando o dirigente que "não é uma questão corporativa".
Segundo o presidente da secção regional, os hospitais veem-se obrigados a cortar "nalguns itens, sendo um deles a segurança", não há acompanhamento por parte das instituições, nada impede o agressor de continuar "a utilizar o local" de trabalho do profissional e há também o "surgimento de uma nova violência".
"Os utentes e acompanhantes têm mais propensão para exteriorizar a sua insatisfação nos hospitais, porque a sua situação global não está bem, e também porque os cuidados de saúde estão mais degradados hoje e o acesso é mais difícil", apontou.
A secção regional está a avançar com "uma campanha inédita e pioneira no país", procurando trabalhar na prevenção e sensibilização junto dos profissionais de saúde em temas como o ‘burnout' (exaustão), a violência contra profissionais de saúde e mediação de conflitos.
Entre uma das medidas, a SRCOM pretende "ir a todos os hospitais e ACES [Agrupamentos de Centros de Saúde]" da região abordar a questão do ‘burnout' junto dos profissionais.
O psiquiatra João Redondo, do Centro de Prevenção e Tratamento do Trauma Psicogénico de Coimbra, sublinhou que esta campanha permite que os profissionais possam saber "como agir" em casos de violência ou de 'burnout', sendo importante que as ações de sensibilização cheguem também "à gestão" das instituições.
Em 2014, a Direção-Geral da Saúde registou 531 sinalizações de violência contra profissionais de saúde, mais do dobro do que em 2013, em que foram realizadas 202 notificações.