Promotores de jogo devem alertar para riscos de dependência
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“O que é muito importante é que todas as entidades que promovem e fornecem o jogo, seguindo o que é uma obrigatoriedade legal, tenham tudo muito claro” e deem informações como o impedimento de jogar a quem é menor ou conselhos como "só deve apostar uma quantia pré-fixada ou não deve jogar só para ganhar dinheiro", disse Pedro Hubert.
Além disso, as entidades que promovem o jogo devem ter associada uma linha de apoio. Contudo, não é isso que se observa: “As entidades que promovem o jogo, sejam casinos, sejam os novos ‘sites’, não aderem a linhas de ajuda, não proporcionam tratamento”, com exceção da Santa casa da Misericórdia de Lisboa, afirmou.
A Santa Casa foi a única que tomou “a iniciativa ao nível do jogo responsável”, por causa dos jogos Raspadinha e Placard, disse o especialista em jogo patológico.
Contactado, o Departamento de Jogos da Santa Casa informou que tem uma Linha de Apoio Jogo Responsável (214193721), que “presta auxílio direto” a todos os que tenham algum problema relacionado com o jogo a dinheiro e aos seus familiares ou amigos.
O objetivo “é levar os apostadores a apostar de forma responsável, fazendo escolhas informadas sobre os seus hábitos de jogo, mantendo sempre presente a componente lúdica do jogo a dinheiro”, refere a Santa Casa, que não divulgou o número de pessoas que pediram ajuda, por ser uma linha “totalmente confidencial”.
Além da Linha, o departamento de jogos disponibiliza ainda uma área de conteúdos sobre Jogo Responsável http://jogoresponsavel.jogossantacasa.pt/).
Pedro Hubert sublinhou que, apesar de as pessoas que têm problemas com o jogo serem uma minoria, precisam de “ser protegidas, encaminhadas, tratadas” porque têm “problemas graves”.
Nesse sentido - defendeu - os médicos também devem estar preparados para problemática do jogo compulsivo.
“Mesmo dentro das dependências, o tratamento de alguém que tem problemas, por exemplo, com drogas é bastante diferente de alguém que tem problemas com álcool e ainda é mais diferente, por uma série de razões, de quem tem problemas com o jogo”, explicou Pedro Hubert.
Quem tem problemas com o jogo são, muitas vezes, pessoas licenciadas, empregadas, com “uma parte narcísica grande, com uma parte competitiva de desafio, que obriga a um tratamento muito diferente”, com “especificidades que são muito importantes conhecer”.
Contactado, o presidente do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Ativos e nas Dependências, João Goulão, adiantou que o SICAD tem vindo a promover a capacitação e formação dos profissionais do terreno na área dos comportamentos aditivos e dependência sem substância.
Segundo João Goulão, os Centros de Respostas Integradas, na dependência das Administrações Regionais de Saúde, também têm equipas especializadas em comportamentos aditivos e admitem pessoas com perturbação de jogo.
Estas pessoas são sujeitas a uma avaliação inicial do seu problema, de âmbito multidisciplinar, e é delineado um projeto terapêutico adequado às suas necessidades, explicou o presidente do SICAD.