Projecto reduz em 26,5% a ocorrência de flebites
Um projecto de investigação-acção desenvolvido, durante três anos, por uma professora da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC) contribuiu para um decréscimo de 26,5% na taxa de incidência de flebites (inflamações da membrana interna das veias) em pessoas portadoras de cateteres venosos periféricos.
O estudo da professora Anabela de Sousa Salgueiro Oliveira, feito com a colaboração de uma equipa de 30 enfermeiros de um serviço de Medicina de um hospital central – onde se desenrolou o projecto – pretendeu compreender as práticas dos profissionais de Enfermagem e contribuir para a redução das flebites, que facilitam a colonização bacteriana e a ocorrência de infecções.
Os bons resultados alcançados surgiram após a realização de oficinas de trabalho com a equipa de Enfermagem daquele serviço, com uma vertente de formação e de reflexão sobre as práticas até então seguidas e tendo por base as guidelines (regras ou instruções sobre como algo deve ser feito) e a evidência científica.
“Os resultados evidenciaram maior mobilização do conhecimento científico, com um decréscimo de 26,5% na taxa de incidência de flebites”, que anteriormente era de 68,9%, revela a investigadora da ESEnfC, ao notar que para estas “alterações positivas” contribuíram não só as práticas dos enfermeiros, mas também mudanças organizacionais, na liderança, na formação dos profissionais e na (menor) sobrecarga de trabalho.
Por outro lado, o perfil complexo dos doentes - no caso em apreço, tinham uma média etária acima dos 76 anos – pode ser outro factor de risco para a ocorrência de flebites.
Como exemplos de algumas das medidas implementadas, a professora Anabela Salgueiro refere o uso de material mais adequado na fixação e protecção do orifício dos cateteres, a utilização de cateteres de menor calibre e o facto de os garrotes para a punção passarem a ser de uso único e lavados diariamente.
Para o sucesso deste projecto, a investigadora da ESEnfC explica que muito contribuiu a estratégia adoptada, de envolvimento da equipa de Enfermagem: “Nós quisemos compreender como faziam e trabalhar com eles, mobilizando a evidência científica para a reflexão. Os enfermeiros foram implicados em todas as fases do processo, no sentido de melhor adequarmos o que está nas guidelines à realidade prática”.
O projecto da professora Anabela Salgueiro, intitulado “Intervenção nas práticas dos enfermeiros para prevenção de flebites em pessoas com cateteres venosos periféricos”, foi recentemente seleccionado como um dos nove nomeados para o Prémio de Boas Práticas em Saúde, da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar (APDH).
Este é mais um estudo que realça “a importância que as práticas dos enfermeiros têm para os ganhos em saúde” e que resultam da “intersecção das dinâmicas da organização, dos enfermeiros, da profissão e também do perfil dos doentes”, conclui Anabela Salgueiro.