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Programas para reduzir risco de dependências devem apostar mais na ação

Os programas de intervenção para reduzir o risco de dependências, designadamente de álcool ou droga, devem ir além da informação e apostar na ação, defendeu o vice-presidente do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências.

"É preciso criar uma dinâmica de perceção de risco e de tentar depois alguma efetivação da ação e da mudança de atitudes. Saber é importante, mas não chega, também é preciso agir", afirmou Manuel Cardoso, que participará, na sexta-feira, nas XXIII Jornadas da Sociedade Portuguesa de Alcoologia, que começaram hoje na Covilhã e se prolongam até sábado, tendo como tema "os jovens e o álcool".

Em declarações, Manuel Cardoso apontou os dados de um estudo realizado o ano passado sobre o consumo de álcool entre os universitários e cujas conclusões referem que os inquiridos sabem que o consumo de álcool é prejudicial, não deixando todavia de beber.

"Quando se lhes perguntou se beber quatro ou cinco bebidas alcoólicas é mau, 82% disse que é muito prejudicial e cerca de 18% disse que é mau. Porém, quando se lhes perguntou se nos últimos 30 dias tinham bebido quatro ou cinco bebidas numa mesma ocasião, 48% respondeu afirmativamente", citou, referindo que isso confirma a ideia de que nas intervenções e projetos é preciso fazer mais do que passar a informação.

Este responsável recordou, aliás, que quer a Organização Mundial de Saúde quer vários estudos internacionais já apontam no sentido de que as campanhas baseadas apenas na transmissão de informação têm resultados pouco eficazes na mudança de comportamentos, o que é preciso alterar.

"É preciso ir um pouco mais longe e apostar em programas e integrem ações mais estruturadas e completas, que permitam a efetiva mudança comportamental", sublinhou.

Manuel Cardoso adiantou que, no âmbito do programa de saúde da Comissão Europeia, foi já lançada uma ação comum dos vários Estados membros para a redução dos efeitos nocivos do álcool - que é aliás liderada por Portugal através do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) - e na qual se estão a tentar encontrar projetos de boas práticas, que depois serão elencados para poderem ser replicados.

Portugal, disse, já tem dois projetos que foram reconhecidos internacionalmente e que integram essa lista, nomeadamente o "Eu e os Outros", promovido pelo SICAD, e o "Pára para pensar", da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra.

No primeiro, que é desenvolvido em âmbito escolar desde 2007 em todo o país, o desafio passa por apresentar às crianças e jovens histórias de vida em que serão os protagonistas e nas quais terão de definir atitudes a tomar em determinadas situações (como por exemplo do consumo de álcool, mas também de anorexia ou de depressão), com as quais poderão vir a cruzar-se no futuro.

"É esta avaliação, esta interação e este ser obrigado a tomar uma posição e decisão que fará com que os próprios alunos interiorizem, através da vivência, as melhores atitudes e ações a tomar e respetivas ferramentas a utilizar", explicou.

Fonte: 
LUSA
Nota: 
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