Profissionais querem alimentação e combate à publicidade enganosa na Lei de Bases da Saúde

As ordens da área da Saúde foram hoje ouvidas no Parlamento pelo grupo de trabalho sobre uma nova Lei de Bases da Saúde que substitua o documento atual, de 1990.
Pela Ordem dos Nutricionistas, a bastonária Alexandra Bento entende que a nova Lei de Bases deve explicitar “as questões da promoção da saúde e da alimentação saudável”, no sentido em que compete ao Estado promover, monitorizar e avaliar uma alimentação adequada para a população.
A Ordem dos Médicos Dentistas começou por considerar que o momento atual não é o mais adequado para mudar a Lei de Bases da Saúde, por ser o último ano de legislatura e com atos eleitorais previstos.
“Não é por ser uma lei antiga que precisa ou não de ser mudada. É uma lei que tem correspondido às expectativas da sociedade portuguesa. Este não parece o momento adequado para alterar, a não ser que haja um consenso muito grande de todos os partidos e da sociedade civil”, defendeu o bastonário Orlando Monteiro da Silva.
Em relação a propostas, a Ordem dos Médicos Dentistas considera que os subsistemas de saúde, os seguros e os planos de saúde “não estão suficientemente abordados em nenhum dos projetos”.
Para o bastonário dos Dentistas, “há aspetos fundamentais que nenhum dos projetos” para a nova Lei de Bases contempla, como a questão da ADSE.
“Esta Lei de Bases não é uma lei do Serviço Nacional de Saúde, vai além disso”, recordou Orlando Monteiro da Silva.
Para os médicos dentistas, a Lei de Bases deve ainda contemplar questões sobre a publicidade em saúde e sobre a difusão de informação sobre saúde.
“Não é matéria assim tão específica ou setorial e também não está em nenhum dos projetos”, defendeu o bastonário.
A ideia é combater a indução artificial de procura, a publicidade enganosa e as técnicas pseudoinovadoras e sem base científica.
Ao contrário da Ordem dos Dentistas, a Ordem dos Psicólogos considera "que chegou o momento de uma nova Lei de Bases" no setor, dado que "muita coisa mudou" e que "novas áreas surgiram".
Isabel Trindade, dirigente da Ordem dos Psicólogos, lembrou que só o Serviço Nacional de Saúde pode garantir a igualdade no acesso aos cuidados de saúde, sugerindo ainda que a nova Lei de Bases define que a saúde deve ser transversal a todas as políticas.
Também a Ordem dos Farmacêuticos foi hoje ouvida no parlamento, tendo defendido que a nova Lei de Bases coloque os direitos sociais como uma das prioridades da lei da estratégia orçamental, com objetivos de bem-estar, além dos objetivos financeiros e económicos.
Os farmacêuticos sugerem ainda que a nova Lei tenha um ponto específico para a genética humana, estabelecendo princípios a respeitar em termos de realização de testes genéticos preditivos, de rastreios genéticos ou de terapia génica.
A Ordem dos Biólogos defendeu um incremento da promoção da saúde e prevenção da doença na futura Lei de Bases da Saúde e sugeriu também que a “especificidade das doenças raras” justifica uma menção específica.
Também presente na audição às ordens da Saúde, o bastonário dos Médicos optou por deixar os contributos da Ordem num documento escrito, criticando os cinco minutos atribuídos para apresentar sugestões sobre a Lei de Bases.
A deputada coordenadora do grupo de trabalho, Carla Cruz, assumiu que inicialmente tinha sido atribuído a cada Ordem cinco minutos para apresentação de propostas e ideias, mas que hoje no início da reunião todos os grupos parlamentares decidiram aumentar o tempo para 10 minutos.
Ainda assim, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, optou por não apresentar as sugestões ou comentários oralmente, deixando aos deputados um documento escrito.
Contudo, o bastonário sublinhou que a Lei de Bases que ainda está em vigor “não impede que o Governo e a Assembleia da República possam investir mais no Serviço Nacional de Saúde” e aumentar a capacidade de resposta do serviço público.
Foi ainda ouvida a Ordem dos Veterinários, que remeterá as suas propostas num documento escrito. A Ordem dos Enfermeiros não enviou qualquer representante à audição, mas fez chegar aos deputados um documento escrito.
Sobre a escassez de tempo para as audições dos representantes dos profissionais, vários deputados de diferentes grupos parlamentares lembraram que o grupo de trabalho sobre a Lei de Bases terá de ouvir largas dezenas de entidades.
“Este exercício pode não ser o ótimo, mas é o exequível. E não é nenhum desrespeito para com ninguém”, afirmou a deputada do CDS, Isabel Galriça Neto, que é também médica de profissão.
O grupo de trabalho vai tentar recolher contributos para uma nova Lei de Bases da Saúde, que substitua a de 1990, estando em cima da mesa cinco propostas: do Governo, do Bloco de Esquerda, do PCP, PSD e CDS, todos em análise em especialidade parlamentar.