Professora defende formação para enfermeiros saberem lidar com o erro
Uma investigação de uma professora da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC) aponta para a necessidade de os enfermeiros mudarem a forma como encaram os erros na prática clínica, ao ponto de defender que esta temática figure nos currículos da oferta formativa.
De acordo com os resultados do trabalho que Cidalina da Conceição Ferreira de Abreu desenvolveu, no período de 2008 a 2015, em 17 hospitais da zona centro do país e com a colaboração de 1165 enfermeiros, “a emoção mais frequente” experienciada por estes profissionais de saúde, relativamente às consequências do erro na prática clínica, “foi a raiva, seguida da culpa”.
Para Cidalina Abreu, é necessário que os profissionais, e até mesmo os estudantes, “desenvolvam competências psicossociais na gestão do erro clínico”, desde o 1º ciclo de estudos (licenciatura) e numa perspetiva de formação ao longo da vida.
A investigadora da ESEnfC defende a “necessidade de se obter uma cultura de segurança” que remeta para a mudança do “paradigma tradicional, centrado na punição”, para “uma cultura mais aberta e de aprendizagem face ao erro comedido”.
Os erros mais reportados por aquela amostra de enfermeiros situaram-se ao nível da categoria “Administração Segura de Medicação”, seguidos das falhas em matéria de “Técnica e Procedimentos”, “Responsabilidade/advocacia do doente”, “Prevenção” e “Comunicação”.
Quanto às causas percebidas do erro, os enfermeiros “evidenciaram com mais frequência o facto de terem decidido com demasiada rapidez relativamente aos procedimentos a efetuar ao doente”, mas também “o facto de se encontrarem desatentos”, ou “de efetuarem uma avaliação errónea da situação do doente”, afirma Cidalina Abreu.
Já no que toca a fatores do contexto profissional que levaram à ocorrência do erro, “os profissionais inquiridos salientaram o ambiente stressante da enfermaria”, continua a docente da ESEnfC.
“Numa cultura de segurança pretende-se que haja a notificação do erro e que se estabeleça um diálogo no seio da equipa multiprofissional, sem pretensão de qualquer tipo de represálias, no sentido de se conseguir analisar a raiz causal do erro ocorrido”, conclui a professora Cidalina Abreu.