Depressão e trabalho
Segundo os especialistas 11% da população tem pelo menos um problema de saúde mental ao longo da vida, sendo a depressão uma das mais frequentes. Devido à sua elevada prevalência a depressão tem sido uma das perturbações psicológicas mais discutida e avaliada, até porque o impacto socioeconómico é muito elevado.
O relatório da Organização Mundial de Saúde – Global Burden of Diseases – de 2004 revela que a depressão é o problema de saúde mental mais predominante na idade activa, com forte impacto no local de trabalho.
É importante, em termos de idade activa laboral, lembrar que a perturbação depressiva major tem uma idade média de aparecimento aos 40 anos, com 50% dos doentes, surgindo a perturbação entre os 20 e os 50 anos.
Actualmente, segundo a mesma organização, a depressão afecta 121 milhões de pessoas e, segundo estudos realizados na União Europeia, prevê-se que em 2030 a depressão seja a maior causa de incapacidade em todo o mundo. Isto provoca um aumento significativo dos custos indirectos devido a baixas médicas e pedidos de reformas antecipadas.
Actualmente a perda de produtividade devido ao absentismo e ao presentismo laboral (presença no trabalho mas com baixa de produtividade devido aos sintomas da doença) representa mais de 50% dos custos relacionados com a depressão. Ou seja, custa perto de 33 milhões de euros, por ano, aos empregadores por perda de tempo produtivo.
Tendo em conta os dados da OCDE de 2011, o custo da doença mental corresponde a 2/3% do PIB da União Europeia, sendo que a maior parte destes custos são indirectos e decorrem da doença na actividade económica. Isto é, os custos da depressão na União Europeia em 2010 foram estimados em 92 biliões de euros. Mais grave ainda é que 54 biliões de euros correspondam a custos de não produtividade, que corresponde, em média, a 6 horas por semana.
O Consenso Nacional das Perturbações do Humor – Depressão, elaborado por várias entidades e especialistas da área refere que a doença produz mais incapacidade no funcionamento físico, psicológico, social e de percepção de saúde, para além de estar associada a maior dor corporal (leva os doentes a estarem mais tempo acamados por empobrecimento da saúde), quando comparados com os doentes com hipertensão arterial, diabetes, artrite ou doença pulmonar. Ou seja, a doença depressiva é a segunda doença mais incapacitante após a osteoarticular, antecedendo a cardiovascular e a oncológica.
Ao nível dos países industrializados do mundo, a incidência de depressão, mania, suicídio e perturbações psicóticas do humor tem vindo a aumentar em cada geração desde 1910. O risco de depressão severa e moderada aumentou 10 vezes de 1947-1957 a 1957-1972, estando a doença a surgir em idades cada vez mais precoces. A depressão surge ao nível mundial como a quarta causa de incapacidade permanente e a quarta doença médica mais dispendiosa. Por outro lado, o risco de suicídio ao longo da vida das perturbações de humor é de 10 a 15% e o risco de tentativas de suicídio está a aumentar 41 vezes nos doentes deprimidos.
Sintomas frequentes
- Humor depressivo durante a maior parte do dia ou quase todos os dias
- Diminuição de interesse ou prazer nas actividades diárias
- Perda de peso (sem dieta) ou aumento de peso significativo
- Diminuição ou aumento do apetite
- Insónia ou hipersónia (necessidade de dormir muito)
- Movimentos lentos
- Agitação
- Náuseas, alterações gastrointestinais
- Fadiga ou perda de energia
- Sentimentos de desvalorização ou culpa excessiva
- Pensamentos recorrentes acerca da morte, ideias de suicídio ou tentativas de suicídio
Consequências
- Absentismo laboral
- “Presentismo” – o doente vai trabalhar mas com diminuição da produtividade
- Aumento de erros e acidentes de trabalho
- Perda de motivação
- Dificuldades relacionais, tensões, conflitos
- Problemas disciplinares
- Incapacidade prolongada e reformas antecipadas
- Rotatividade da força de trabalho
Com o tratamento adequado, a taxa de remissão é de 76% e o regresso ao trabalho prevê-se em média ao fim de 70 dias. Por isso, quanto mais precoce for o inicio do tratamento, maior é a probabilidade de resposta e mais limitadas são as consequências para o trabalhador e para a organização laboral.
É importante que na presença de sintomas relacionados com a doença procure o seu médico de família que o encaminhará para um especialista, para lhe administrar o tratamento mais apropriado ao seu caso.