Primeiros passos no combate ao desperdício alimentar
“A câmara de Lisboa deu aqui o primeiro passo enquanto primeiro município do país que terá uma estratégia de combate ao desperdício alimentar”, afirmou o comissário municipal do combate ao desperdício alimentar, João Gonçalves Pereira.
O também vereador centrista falava aos jornalistas à margem de um almoço de apresentação dos contributos daquele comissariado ao Governo, no plano nacional contra o desperdício alimentar.
Em maio, foi aprovado por unanimidade na reunião de câmara a criação deste comissariado, encarregue de criar um plano para a cidade.
Segundo João Gonçalves Pereira, “este comissariado não se pretende substituir a nenhuma outra instituição: nem aos restaurantes nem às Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) que recolhem. Cada um terá o seu papel”.
De acordo com o autarca, “o papel da Câmara Municipal será, no fundo, criar uma rede e congregar esforços” para que em toda a cidade haja recolha das refeições a mais, que depois serão “canalizadas para os que mais precisam”, defendeu.
João Gonçalves Pereira espera que o plano seja aprovado pela câmara até dezembro, para que em janeiro esteja em condições de ser executado.
Também presente, o vereador dos Direitos Sociais da Câmara de Lisboa explicou que a autarquia, através deste comissariado (do qual também faz parte), já contactou várias entidades, organizações, organismos de Estado, tendo enviado 64 cartas no total.
João Afonso referiu que o contacto com os restaurantes é feito através de estruturas organizativas do sector.
O encontro contou ainda com a presença do secretário de Estado da Alimentação, Nuno Vieira e Brito que, em declarações aos jornalistas, defendeu que “Lisboa tem já uma tradição e um trabalho de rigor” nesta área.
O governante adiantou que “este ano, o Governo estabeleceu (...) um compromisso entre diferentes entidades”, como autarquias, confederações de agricultores, indústrias e universidades, no combate ao desperdício alimentar.
O resultado desse compromisso será apresentado a 16 de outubro, abrangendo vários sectores, como a produção, a comercialização, a distribuição, o ensino e as autarquias.
Uma das medidas a adoptar assenta nos mercados de proximidade e na “fruta feia”, que apesar de não ter o aspecto desejado, está apta para consumo, e poderá ser vendida a um preço mais baixo, exemplificou Nuno Vieira e Brito.
O encontro decorreu no Restaurante Laurentina, em Lisboa, que é considerado um exemplo no que toca ao aproveitamento das sobras.
O proprietário, Marco Pereira, foi um dos criadores do projecto ‘Re-food’, tendo lembrado que já anteriormente havia pessoas que faziam fila à porta do seu estabelecimento para ter uma refeição, por volta das 23:00.
O responsável admitiu que “sobra sempre” comida sendo que se trata de um restaurante de cozinha tradicional portuguesa, “com panela e tacho”, tornando-se “difícil” calcular as quantidades.
Entre os alimentos mais doados estão os pastéis de bacalhau, a sopa, o pão, o arroz e a batata cozida.
Actualmente, o desperdício alimentar em Portugal situa-se nos 17%, valor que está abaixo da média da União Europeia, de 30%.
Um dos objectivos do comissariado municipal é, ainda, criar uma plataforma nacional de conhecimento sobre o desperdício alimentar, para ter números mais actualizados e dados sobre os estabelecimentos.