Prevenção primordial do AVC
Em 2014 ocorreram em Portugal 105.219 óbitos, mantendo-se o AVC como principal causa de morte, responsável por 11% do total.
As novas abordagens do AVC na fase aguda, tecnicamente inovadoras, mediaticamente aliciantes, inegavelmente válidas e importantes, não são no entanto responsáveis pela progressiva diminuição da incidência do AVC e da sua inerente mortalidade (redução 46% numa década no nosso país) e morbilidade. Estas são consequentes sim a medidas de prevenção de âmbito populacional.
Temos de fazer mais e melhor…
Por promoção de saúde ou prevenção primordial entende-se estratégias visando a população em geral que previnam o desenvolvimento de factores de risco para AVC e outras doenças vasculares. Por prevenção primária entende-se estratégias direccionadas para indivíduos já com um ou mais factores de risco significativos e bem documentados para AVC e outras doenças vasculares.
Sabemos o que deve se feito, temos de conseguir transmiti-lo de forma eficiente, resultando na modificação de comportamentos numa larga escala populacional.
Devemos fazê-lo nos dois planos:
Ao nível da prevenção primordial, mediante a educação para a saúde com modificação de comportamentos, visando um estilo de vida saudável:
1. mantendo actividade física
2. equilibrando o consumo calórico com a actividade física
3. parando a epidemia do sal e do açúcar
4. valorizando uma dieta saudável (como a dieta mediterrânea) usando produtos frescos, de época e produzidos localmente, com:
• consumo predominante de azeite como gordura alimentar
• redução do consumo de sódio (sal), gordura saturada, ác gordos trans e colesterol
• usando grande diversidade de vegetais e frutos frescos, leguminosas, nozes (nuts) e cereais integrais
• consumo moderado de peixe, marisco e carne de aves
• consumo moderado de vinho tinto à refeição
• baixo consumo de carne vermelha e alimentos processados
• baixo consumo leite e doces, incluindo refrigerantes e outros alimentos com adição de açúcar (nomeadamente o perigo dos “cereais” infantis…)
O grande segredo: diversidade, frugalidade e escolha de um estilo de vida saudável
Será sempre fundamental uma intervenção específica na cessação tabágica e no controlo da obesidade.
Sendo que 74% do risco de AVC é atribuível a alterações comportamentais, inverter estes números está na nossa mão.
A doença ateromatosa é uma doença sistémica e responsável por cerca de 90% dos AVC isquémico ou hemorrágicos ocorridos em todo o mundo.
A relação entre os principais factores de risco (comportamentais, ambientais ou metabólicos), a doença ateromatosa e o AVC é
• biologicamente plausível
• contínua e progressiva em termos de gravidade e duração
• consistente entre os estudos e em todas as populações estudadas
• independente de outros factores de risco estudados
Os factores de risco demonstram, relativamente ao AVC:
• uma associação forte (preditiva de AVC)
• etiologicamente significativa (causal)
Assim, em termos de prevenção primária, importa detectar e tratar, em termos populacionais e de modo custo efectivo, os principais factores de risco para AVC e outras doenças vasculares (hipertensão arterial, tabagismo, diabetes mellitus, dislipidémia, fibrilhação auricular…).
É mediante educação populacional para a saúde (estilo de vida saudável), divulgação, prevenção, reconhecimento, detecção e intervenção terapêutica precoce nos principais factores de risco vascular, que podemos, a longo prazo, reduzir a incidência e prevalência do AVC, que se mantém como principal causa de morte e morbilidade em Portugal.