Prémio Champalimaud de Visão para três organizações que trabalham em África
O Kilimanjaro Centre for Community Opththalmology (KCCO), a Seva Foundation e a Seva Canada são os vencedores desta edição do maior prémio do mundo na área da visão e que foi ontem entregue na fundação.
O projeto “reúne três áreas: combate à pobreza, combate à cegueira e promoção económica e social das populações através de programas de microcrédito e microfinanciamento”.
“Estes programas de microcrédito abrem novas perspetivas e dão um novo sentido a atividades tradicionais, como o artesanato, pondo o resultado destas atividades ao serviço das populações e garantindo a estas comunidades esquecidas uma nova forma de vida e desenvolvimento sustentável”, segundo a Fundação.
O Projeto Kilimanjaro atua num dos cenários mais dramáticos de África, num território devastado pela pobreza extrema, pelos flagelos naturais, pela doença e pela cegueira, que atingiu nesta área números inimagináveis.
Em declarações, o diretor do KCCO, Paul Courtright, sublinhou que o trabalho desta organização não se limita à assistência clínica: “Temos de envolver toda a comunidade, saber onde estão os doentes. Muito do nosso trabalho é focado em busca de capacidades” junto as populações.
Paul Courtright destacou a dimensão da cegueira em África, onde “há muita gente cega”.
Sobre as cataratas, que “são a principal razão da cegueira em África”, há pouco a fazer ao nível da prevenção. “O que podemos fazer é levar as pessoas a procurar os serviços” de saúde, o que “não é fácil”, tendo em conta a rede de transportes neste continente, que “é muito fraca”, disse.
“Por isso, temos de criar pontes entre a comunidade e os serviços de saúde”, adiantou.
O glaucoma “também é um grande problema em áfrica” e, nesta área, o trabalho do KCCO incide no treino das pessoas para que façam determinadas cirurgias que previnam a cegueira causada pelo glaucoma, ou que recebam os devidos medicamentos para a prevenção da doença”.
A KCCO está muito preocupada com a cegueira pediátrica que atinge muitas crianças em África.
“Mais uma vez, temos de encontrar formas de chegar às crianças, junto da comunidade. As mães não sabem o que fazer e nós temos de encontrar uma forma de identificar as crianças e fazer com que elas acedam aos serviços de saúde”, disse.
Sobre a atribuição do prémio, Paul Courtright congratulou-se com a mesma, sobretudo por tratar-se do “reconhecimento” de uma forma de trabalhar que envolve a comunidade.
“Não é só mandar pessoas para África e esperar que as pessoas de fora resolvam os problemas. Isso não faz sentido. É preciso envolver e encontrar as ferramentas em África”, adiantou.
O Prémio António Champalimaud de Visão 2015 reconhece “o esforço de organizações que, com poucos meios, ultrapassaram dificuldades desenvolvendo um combate cujos resultados já são visíveis”, segundo a fundação.
Este prémio foi lançado em 2006 e conta com o apoio do programa “2020 – O direito à Visão” da Organização Mundial de Saúde.
No ano passado o prémio foi para sete cientistas: Napoleone Ferrara, Joan W. Miller, Evangelos S. Gragoudas, Patricia A. D’Amore, Anthony P. Adamis, George L. King e Lloyd Paul Aiello.