Estudo

Portugueses descobrem que droga “krokodil” tem 95 analgésicos com potencial terapêutico

O “krokodil”, a droga mais destrutiva do planeta, tem na sua composição 95 analgésicos, alguns deles com grande potencial para serem usados em fins terapêuticos, revela um estudo português.

Este resultado acaba de ser publicado na "Chemical Research in Toxicology", a revista científica da Academia Americana de Química, e é da autoria da mesma equipa de investigadores portugueses que desenvolveu o único método existente para detetar o “krokodil” no sangue e na urina.

O Krokodil é uma droga 10 vezes mais potente que a heroína e que está a amputar e matar milhares de pessoas, escreve o Sapo.

A equipa que fez a descoberta é liderada por Ricardo Dinis-Oliveira, professor e investigador de ciências biomédicas na CESPU, especializado em ciências forenses.

Droga pode provocar amputação de membros
“Ao estudarmos a parte má de uma droga tão viciante como o ‘krokodil” – que é mais ácida, agressiva e corrosiva do que qualquer outra no mercado, podendo levar à amputação de membros –, interrogámo-nos sobre o que leva as pessoas que o injetam a tolerar a dor e, ao mesmo tempo, a ter prazer na administração”, afirma Ricardo Dinis-Oliveira.

“Foi assim que identificámos 95 moléculas que, pelo facto de serem semelhantes à morfina, poderão ser também excelentes ferramentas terapêuticas no tratamento e alívio da dor severa, sobretudo quando os tratamentos clássicos deixam de ter eficácia”, acrescenta o autor do estudo.

Félix Carvalho e Carlos Afonso, professores da Faculdade de Farmácia do Porto, são outras duas assinaturas importantes no artigo agora editado por uma das mais importantes publicações mundiais dedicada ao estudo da toxicologia e da química medicinal. Este trabalho insere-se também na tese de doutoramento de Emanuele Alves, quadro da Polícia Federal do Rio de Janeiro.

Ainda antes do artigo ter sido publicado pela revista da Academia Americana de Química, a 30 de maio, a equipa submeteu à Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) um projeto de investigação para estudar qual (ou quais) das moléculas analgésicas se mostrará mais promissora para o tratamento de vários casos de dor severa: queimados, enfarte agudo do miocárdio, politraumatizados, dor oncológica, cuidados paliativos e cuidados terminais.

O projeto apresentado à FCT tem o valor de 240 mil euros e prevê dois investigadores a tempo inteiro, durante três anos. O trabalho de investigação será feito no Instituto Universitário de Ciências da Saúde da CESPU, no Grande Porto, e na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto no âmbito de doutoramentos em Ciências Biomédicas e Forenses.

A candidatura sustenta que a dor há muito deixou de ser considerada um sintoma que se tem de suportar, havendo que encontrar terapêuticas adequadas para a reduzir, aumentando desta forma a qualidade de vida dos doentes. Ainda esta semana, a FCT atribuiu uma bolsa de doutoramento a um estudante que se focará no estudo da farmacologia destes compostos.

“As moléculas estão todas caracterizadas em termos de estruturas químicas”, afirma Ricardo Dinis-Oliveira. “O que a investigação nos vai dizer é quais são aquelas que têm melhor potencial analgésico para o tratamento da dor severa”. Segundo o coordenador da investigação, o “krokodil” poderá “estar oferecer, de forma inesperada, um arsenal terapêutico para dor até à data verdadeiramente incomparável”.

Um caso em Portugal
O “krokodil” é uma droga altamente destrutiva que ganhou este nome por provocar uma aparência esverdeada e escamosa na pele dos consumidores. Muito difundida em países asiáticos e nos Estados Unidos, tem como principal componente psicoactivo um opioide semissintético, a desomorfina. Detetada há uma década na Rússia, em Portugal o Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) só tem registo de um caso de consumo no país.

Fonte: 
Sapo
Nota: 
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