Portugal é dos que mais usa antibióticos contra bactérias resistentes
O consumo de antibióticos em Portugal está a baixar tanto nos hospitais como na comunidade, colocando o país acima da média dos países europeus, escreve o Diário de Notícias. Os dados revelados a nível nacional e pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) são positivos de forma geral, por mostrarem um controlo do uso de antibióticos, mas Portugal ainda é dos que mais recorrem a tratamentos de última linha, ou seja, aos últimos recursos para tratar infeções com bactérias multirresistentes. Ontem começou a Semana Mundial para a Sensibilização sobre o Antibiótico, que decorre até 22 de novembro.
Todos os anos morrem 25 mil pessoas na sequência de infeções, motivo que leva a Comissão Europeia a querer apostar no combate às resistências e no aumento do conhecimento sobre estes problemas, envolvendo todos os parceiros. Além do desenvolvimento de antibióticos, sem novidades desde 1987, é preciso apostar a prevenção e no controlo da doença.
José Artur Paiva, o diretor do Programa Nacional de Prevenção e Controlo de Infeção e de Resistências a Antimicrobianos, não tem dúvidas em assumir que "Portugal está a conseguir controlar o uso de antibióticos. Há uma redução global desde 2012, seja na comunidade ou nos hospitais. Na comunidade, há um aumento ligeiro em 2014 porque foram integrados os subsistemas públicos, como a ADSE", justifica.
O relatório do ECDC coloca Portugal a meio da tabela, em 15º lugar entre 30 países. No âmbito hospitalar, apesar de dados serem apenas do SNS, Portugal está em 12º lugar em 21. Os resultados estão relacionados com as três áreas centrais do programa nacional: a prevenção das infeções, a ausência de tratamento nos casos em que não se justifica e o tratamento com os antibióticos de menor espectro, ou seja, que tratam o mínimo de bactérias possível para que não haja resistências. O tempo de tratamento também tem de ser cumprido. Não se deve deixar de tomar um antibiótico antes de tempo, nem o usar por demasiado.
Prioridade na prescrição
O programa pretende agora reforçar os mecanismos de controlo dentro dos hospitais, com maior rigor na prescrição dos antibióticos de última linha, sobretudo, mas ainda se pretende implementar mais medidas no combate às taxas de infeção. "Queremos intervir em seis áreas, como as pneumonias associadas ao ventilador, as infeções pós-operatórias, urinárias associadas à algália ou a dos cateteres", diz José Artur Paiva. Ontem foram apresentadas algumas medidas destas intervenções, que se espera virem a reduzir as infeções.
Travar casos como o de Gaia
A grande prioridade a nível europeu é o combate às resistências aos antibióticos, em especial quando se trata daqueles que são o último recurso quando tudo falha. É o caso dos carbapenems, um grupo de antibióticos usados em fim de linha, por exemplo, na bactéria que provocou o surto que afetou mais de cem doentes no Hospital de Gaia, a klebsiella pneumoniae. Portugal tem um consumo muito acima da UE neste grupo, sendo o segundo maior consumidor depois da Grécia. Está ainda em quinto na polimixinas, outro grupo de fim de linha.
O país tem elevados níveis de resistência em várias bactérias, mas na que se tornou mais mediática recentemente - a de Gaia - a resistência ligada aos carbapenems é até reduzida. "Estamos muito abaixo da UE. Agora, estamos a registar um aumento como acontece na maior parte dos países. As infeções com esta bactérias são mais frequentes, mas nós ainda registamos apenas surtos em hospitais. O que temos de fazer agora é definir estratégias para evitar que cheguem a um nível regional".
Outro dado positivo foi a redução do nível de resistência que mas marcava Portugal. A taxa de Staphylococcus aureus resistente à meticilina era a pior da Europa, superando os 50%. Baixou de 54,6% para 47,4% e apenas quatro anos. As estratégias realizadas o âmbito do programa nacional contribuíam para a melhoria.
"De forma global, os países escandinavos e a Holanda têm resultados melhores, mas Portugal é semelhante aos países da Europa Central. Conseguimos reduções na generalidade das bactérias. Mais do que nos compararmos, é importante compararmo-nos connosco próprios".