Porto é "reservatório genético de estirpes" da tuberculose
A responsável Raquel Duarte salienta que, “embora a tuberculose tenha vindo a diminuir no país, concentra-se cada vez mais nos grandes centros urbanos em grupos vulneráveis. O Porto é a prova disso”.
“O Porto constitui-se assim como um importante modelo para a diminuição de incidência numa área endémica para tuberculose”, refere a investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto e coordenadora do Centro de Referência Nacional para a Tuberculose Multirresistente.
O Projeto Menos TB Porto, que tem como objetivo principal estabelecer uma estratégia eficaz de diagnóstico e tratamento precoce de tuberculose, e identificar fatores de risco específicos para o desenvolvimento da doença nos grupos vulneráveis, nomeadamente junto dos sem-abrigo, encontra-se na sua fase final.
Resultou da colaboração entre o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, o Instituto de Ciências da Vida e da Saúde da Universidade do Minho, a ARS Norte, o ACeS Porto Ocidental e o ACeS Porto Oriental.
Os rastreios realizados pelas Unidades de Saúde Pública do Porto Oriental, do Porto Ocidental e do Centro de Diagnóstico Pneumológico (CDP), em parceria com as organizações de apoio aos sem-abrigo, permitiram rastrear 403 indivíduos e nestes identificar dois casos de tuberculose.
“A incidência de tuberculose na população em geral é de 20 casos por cada 100 mil habitantes, e só no Porto este projeto permitiu detetar dois casos em apenas 403 indivíduos, o que se traduz numa taxa de incidência de 496 por cada 100 mil sem-abrigo”, sublinha a responsável.
Raquel Duarte é a coordenadora deste projeto, diretora da Unidade de Gestão Integrada do Tórax e Circulação do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia, coordenadora do Centro de Referência Nacional para a Tuberculose Multirresistente, assessora do diretor do Programa Nacional para a TB/VIH, para a área da tuberculose, e docente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
Os resultados do projeto sugerem que as equipas de rua têm um papel muito importante na proximidade com os sem-abrigo e outras populações vulneráveis, cuja articulação com as unidades de saúde pública e CDP são fundamentais.
Assim, salienta a responsável pela investigação, o término do projeto não deve implicar a diminuição destas sinergias e, por isso, foi proposto “um cronograma de rastreios para 2017, que visa a articulação, sensibilização e acompanhamento de casos entre os ACES do Porto e as equipas de rua”.
Os autores do estudo referem que a caracterização genética, aliada à georreferenciação, em conjunto com a informação epidemiológica, permitiram a identificação das cadeias de transmissão da doença.