Opinião

Porque o futuro somos também nós

Atualizado: 
25/07/2018 - 10:06
Comemora-se hoje, dia 15 de Junho, o Dia Mundial da Consciencialização da Violência contra a Pessoa Idosa, data criada em 2006 pelas Nações Unidas e pela Rede Internacional de Prevenção à Violência à Pessoa Idosa, tendo como objectivo reflectir sobre uma questão social sensível e acabar com a violência contra os idosos.

A violência sobre o idoso pode ser definida como qualquer acto que cause dano a uma pessoa idosa e que seja realizado por alguém que ele conheça ou em quem confie, como um membro da família ou um amigo. O abuso pode ser físico, social, financeiro, psicológico ou sexual, podendo incluir maus-tratos e negligência.

Todos os dias internacionais significam a inerente necessidade de lembrar o facto que se comemora por este ser negligenciado ou ignorado. Quando ao dia que comemoramos lhe acrescentamos o epíteto de “dia da consciencialização de” compreendemos que aqui o assunto se torna ainda mais sério. Não nos limitamos a marcar no calendário, obrigando à sua discussão, o problema da violência exercida contra a Pessoa Idosa mas acrescentamos ainda a necessidade de que haja consciencialização de que essa violência existe, reforçando a dupla violência exercida sobre as vítimas, ou seja, não só essa violência existe como muitas vezes esta não é (re)conhecida pelo idoso ou pela sociedade em geral, acrescentando silêncio e sensação de impotência do idoso face à agressão já que esta é, em geral, ignorada ou desvalorizada pela sociedade.

Qual a razão deste tipo de violência ser pouco reconhecida? Boa parte das vezes dá-se por ocultação do próprio idoso, vítima de violência, tantas vezes dos próprios filhos, ou dos seus cuidadores de quem está dependente. Muito idosos consideram normal a desconsideração a que são votados pelas gerações mais novas levando em conta a sua debilidade ou a degradação de algumas capacidades fruto do envelhecimento. Muitos velhos sentem-se um “estorvo” por se acharem inúteis, encarando o envelhecimento como uma derrota. Por outro lado, sobretudo quando se trata de violência física exercida por um filho ou neto, o idoso tende a não o denunciar, por vergonha ou sentimento de culpa (achando-se culpado de ter educado dessa forma o seu filho que agora o agride) ou por recear represálias. Outras vezes o idoso receia que não acreditem no que diz por o acharem demente ou confuso e como tal a violência de que é vítima, acrescida da ignorância e silêncio a que é votada, se torna um pesadelo sem saída.

Numa sociedade cada vez mais envelhecida, estima-se que em 2025 sejam mais de 1,2 mil milhões de pessoas com mais de 60, nunca os idosos foram tão votados ao esquecimento e sujeitos a maus-tratos físicos e psicológicos.

Estima-se que em Portugal, todas as semanas, 16 idosos são vítimas de violência. Cerca de 12,3% dos idosos podem ser alvo de algum tipo de violência por parte de familiares, amigos, vizinhos ou cuidadores remunerados sendo que os números apresentados muito provavelmente ficam aquém da realidade por esta ter fraca expressão e ser pouco denunciada pelas vítimas.

Neste dia a ONU relembra também que a discriminação etária é uma grave violação dos Direitos Humanos, exigindo o empenhamento dos governos, das instituições e da população para mudar a situação.

Em vista de tudo isto cumpre-nos a nós, não só profissionais de saúde mas cidadãos em geral procurar mudar este quadro, começando por acarinhar e a apoiar os nossos velhos, não esquecendo que a velhice não é uma doença mas sim um período da vida onde chegaremos se tivermos sucesso a combater todos os obstáculos que até lá se nos vão interpondo. A vida deve ser vivida integralmente com a dignidade que lhe é merecida, em todas as suas fases, mesmo nas de maior debilidade. Não esqueçamos que, se pensarmos bem sobre o assunto – a velhice é o futuro que nos espera.

*este artigo não foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico, por opção do autor

 

Autor: 
Dra. Alexandra Malheiro - Especialista Medicina Interna
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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