Porque choram os recém-nascidos e que estratégias adoptar para o acalmar
O choro é a linguagem universal do recém-nascido (RN) e a forma mais precoce de comunicar. É através dele que exprime as suas necessidades, sentimentos e sensações, sobretudo nos primeiros meses de vida. Período durante o qual são totalmente dependentes para as suprimir, tornando assim o choro algo de intervenção imediata por parte da mãe que, biologicamente está “programada” para responder a essas solicitações, garantindo assim a sua sobrevivência e desenvolvimento. Sabe-se que quanto mais rápida e eficaz for essa resposta, mais o RN “confiará” nela, se sentirá seguro e tranquilo e, por conseguinte, melhor será a sua auto-estima e a relação de vínculo com a mãe. Descodificar o choro torna-se assim um grande desafio para a mãe e requer desta, intuição, conhecimento, percepção e aprendizagem que, numa fase inicial é feita através do sistema “tentativa/erro”. Processo que vai aperfeiçoando até conseguir associar a cada tipo de choro um “pedido” específico.
As causas que provocam o choro no RN são múltiplas, podendo ser resumidas em causas físicas (fome, cansaço, fralda suja, desconforto e frio/calor excessivo), emocionais (falta de atenção e insegurança) e patológicas (dor, síndrome de privação e cólicas)1.
Relativamente aos choros mais frequentemente observáveis no RN seguem-se alguns processos de reconhecimento e estratégias para responder ao mesmo.
Fome – antes de começar a chorar o RN emana sinais que os pais facilmente identificam como tendo fome. Começa a ficar agitado, a chupar no dedo, a abrir e a fechar as mãos, a fazer ruídos e a procurar a mama quando a mãe o agarra ao colo. Geralmente é alimentado antes de começar a chorar. Se tal não acontecer o choro torna-se intenso, persistente e prolongado.
Fralda suja – muitos RN assim que têm a fralda suja manifestam desconforto. Chegam mesmo a contorcer-se com dores se existir uma dermatite. Outros não se “incomodam” por terem a fralda suja, pois é “quentinha“, não dando qualquer sinal de desconforto. A solução passa pela simples muda de fralda.
Falta de atenção – quando o RN “choraminga” e se acalma quando é agarrado ao colo é porque necessita de se sentir protegido e seguro. Facto conseguido pelo contacto físico, do som da voz, do sentir do coração e mesmo do cheiro, nomeadamente da mãe que reconhece facilmente. Apesar de muitos pais se preocuparem por correrem o risco de “mimarem” de mais os filhos, tal preocupação não deve existir, nomeadamente nos primeiros três meses de vida.
Excesso de estímulos – um dia cheio de visitas e de muitas actividades, ambientes com muito barulho e muita luz, pode deixar o RN excitado, irritado e incapaz de processar tantos estímulos, não conseguindo estabelecer o autocontrolo, inibindo-o da capacidade de se “desligar” para se acalmar e eventualmente adormecer. Nestes momentos chora mais que o habitual e sem motivo aparente, sobretudo ao fim do dia. O choro começa por gemidos, em forma de rabugice e de reclamação, como que a pedir que o deixem em paz. A solução passa por reduzir o nível de estímulos.
Desconforto – se o RN apresentar um choro intenso, seguido de movimentos corporais é por estar desconfortável ou por ter frio/calor. Tal facto pode acontecer por estar numa posição inadequada, fralda ou roupa apertada, etiquetas da roupa em contacto com o corpo que provocam prurido ou por um simples cabelo em torno de um dedo. Relativamente ao frio é facilmente comprovado pela observação/palpação do abdómen e/ou extremidades, enquanto o excesso de calor, é observável pela exsudação, pele pegajosa e ruborizada, sobretudo no pescoço e a raiz do cabelo fica húmida. Aliviar o que está a perturbar, vestir/despir ou colocar mais/menos roupa na cama do RN elimina o problema.
Cólicas – são frequentes nos três primeiros meses de vida do RN. A sua etiologia é multifactorial (aerofagia, imaturidade gastrointestinal, intolerância às proteínas do leite de vaca, refluxo gastro esofágico, tensão emocional, alterações do mecanismo de auto-regulação) e caracteriza-se por um choro agudo, prolongado, de tipo inconsolável. Ficam agitados, cerram os punhos, arqueam as costas, enrugam a testa e ficam com o abdómen distendido. A solução passa por massagens, colocar calor no abdómen (bolsa de água) e/ou dar algo a chupar (seio/dedo/chupeta). A sucção acalma e alivia a dor, por estabilizar os batimentos cardíacos, diminuindo a ansiedade. Contudo o uso da chupeta, segundo a OMS é contra-indicado até a lactação estar bem estabelecida (cerca de duas semanas)2.
Recentemente surgiu o método dos “5s” ou dos cinco passos3, que comprovadamente funciona e baseia-se em proporcionar ao RN o ambiente que ele bem conhece e tinha antes de nascer (no útero).
A sequência dos passos é aleatória e não obrigatória, pois frequentemente o RN acalma logo no primeiro passo. Seguem-se os passos. Swaddling – embrulhar/”enrolar” o RN numa manta, bem apertadinho (ver fig.), incluindo e limitando os braços, para evitar que ele se assuste com os seus próprios movimentos e se sinta aconchegado. Side ou stomach position – colocar o RN de lado ou de barriga para baixo e em posição fetal, são as posições preferidas do RN, onde o abdómen não fica descoberto e desprotegido (enquanto estiver acordado). Shushing – fazer “sheeee” ao ouvido do RN, num volume de voz igual ao choro e ir baixando (emita o ruido que ouvia no útero). Swinging – embalar a criança, com movimentos rápidos e curtos, nunca sacudir (risco do “síndrome da criança sacudida”), arma poderosa de o acalmar, fazendo lembrar os movimentos constantes e contínuos da mãe quando ainda estava no útero (sentar, levantar, caminhar e virar o corpo). Sucking – dar ao RN algo a chupar (ver referência anterior) e massaje.
Apesar de todos os esforços, se o RN continuar a chorar, pelo seu temperamento, torna-se uma fonte de stress para os pais que podem-se sentir inseguros e incompetentes sobre as suas capacidades de cuidar do filho. Nesta situação os pais não devem exigir muito de si mesmas, devem ser tranquilizadas e informados que nenhum RN corre o risco de vida por chorar e, se necessário, pedir apoio de familiares para terem um tempo para si e/ou proporcionar apoio psicológico.
Referências:
1BRAZELTON, T & SPARROW, J (2004). O método brazelton: a criança e o choro. Lisboa: Editorial Presença.
2LEVY, L & BÉRTOLO, H (2012). Manual de aleitamento materno. Edição Comité Português para a INICEF/Comissão Iniciativa Hospitais Amigos dos bebés.
3KARP, H (2014). O bebe mais feliz do mundo. Editora: Livros d’ Hoje.