Políticas exaustas exigem mobilização dos cidadãos na mudança
“É altura de os próprios cidadãos se juntarem aos enfermeiros e dizerem claramente que as políticas de saúde padecem de uma exaustão crónica. E fazer um ultimado aos técnicos de paliativos, em que se transformou a maioria dos eleitos deste país”, lê-se num editorial da revista Enfermagem e o Cidadão, que a Secção Regional Centro (SRC) da Ordem dos Enfermeiros (OE) hoje lança publicamente.
Nesse editorial, da autoria Enf.º José António Ferreira, membro do Conselho Directivo Regional da SRC, é afirmado ser o momento de dizer aos governantes que, ou se reciclam profissionalmente, ou terão também de emigrar, como constantemente induzem qualquer cidadão contribuinte deste país a fazê-lo.
Realça que este ano a Ordem dos Enfermeiros foi forçada a um dos verões mais activos da sua história, não apenas pela exposição pública na defesa dos altos interesses da comunidade, mas também pelo trabalho que teve de desenvolver fora do foco da comunicação social.
“Um mediatismo que os próprios enfermeiros e a sua Ordem dispensariam, não fossem os altos valores em risco e a necessidade de proclamar o supremo direito do cidadão à Saúde, a uma saúde com qualidade, em segurança e acessível, independentemente do lugar onde cada um tenha de viver, ou do abono do seu pé-de-meia”, sublinha.
Pelos cidadãos, pela qualidade e segurança, pela acessibilidade dos cuidados de saúde, que a Constituição da República ainda consagra – acrescenta, os enfermeiros prescindiram de férias, muitos prescindiram de dias de salários para fazer greve. Isto numa altura em que os governantes deste país, e os aspirantes a tal, estavam a banhos e ocupados em entretenimentos recorrentes.
Destaca que uma das expressões mais correntes neste Verão foi a “exaustão dos enfermeiros”. Há enfermeiros super-dedicados, que chegam à exaustão para responder às necessidades dos cidadãos, para conseguirem manter os seus serviços a funcionar. Mas, não conseguem nem pretendem ser super-enfermeiros. Simplesmente ENFERMEIROS.
Segundo os cálculos da Ordem dos Enfermeiros para as Dotações Seguras em cada serviço de saúde e os dados internacionais sobre a prestação de cuidados de enfermagem, faltam em Portugal cerca de 25 mil enfermeiros para satisfazer as necessidades dos seus cidadãos.
Para a OE, não se trata de um mero exercício de aritmética de jogo circunstancial, bem ao jeito lusitano, mas de uma conclusão assumida igualmente pelo Conselho Internacional de Enfermeiros.
“A sabedoria popular diz-nos que ‘ninguém é de ferro’. Nem os enfermeiros super-dedicados, porque não são super-homens enfermeiros, nem super-mulheres enfermeiras. Tal como não há super-ministros, super-políticos, super-gestores”, acentua.
Realça que com os níveis de exaustão física e psicológica que os enfermeiros atingiram não se conseguem prestar cuidados aos cidadãos sem riscos na qualidade e segurança, nem ter a disponibilidade para o humanismo que lhes está imanente.
Para a SRC da OE, a exaustão dos enfermeiros, não é meramente um problema dos enfermeiros. É um problema de quem presta e um problema de quem recebe os cuidados.
“É altura de os cidadãos clamarem pela sua saúde, e saírem à rua se necessário. Ao ajudar os enfermeiros, estão também a ajudar-se a si. Tudo pela sua saúde, e pela ‘saúde de quem lá tenham!’”, conclui.
A revista ‘Enfermagem e o Cidadão’ é hoje distribuída gratuitamente na Região Centro, numa tiragem de cerca de 14 mil exemplares. Nela se insere uma reportagem sobre a enfermagem no INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica).
Divulga ainda outras actividades socialmente relevantes desempenhadas por enfermeiros, designadamente como presidente de Junta de Freguesia, pianista ou poeta.
A musicoterapia na maternidade, a massagem infantil, uma aplicação tecnológica desenvolvida por enfermeiros para monitorização de feridas, e um artigo de opinião do Bastonário da OE, Enf.º Germano Couto, sobre a comprovação científica das causas de exaustão são outras rubricas da publicação.