Entrevista

Pneumonia: tratamento é eficaz quanto mais precoce for o diagnóstico

Atualizado: 
12/11/2018 - 15:26
Estando entre as principais causas de morte no país, a Pneumonia atinge mortalmente cerca de 160 portugueses todas as semanas, constituindo-se como uma das principais fontes de despesa no que diz respeito ao seu tratamento. Em entrevista ao Atlas da Saúde, e a propósito do Dia Mundial da Pneumonia, a pneumologista Aurora Carvalho apela à vacinação dos grupos de risco e recomenda a adoção de hábitos de vida saudáveis. “A poluição, os hábitos tabágicos e o alcoolismo estão entre os fatores que predispõem ao aparecimento de pneumonia e ao desenvolvimento de complicações”.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a pneumonia é a principal causa de morte na infância em todo o mundo. Em Portugal, é responsável por cerca de 50 mil internamentos por ano. Como se caracteriza esta doença e porque é que, embora o seu tratamento seja (na grande maioria dos casos) relativamente simples e barato, ainda é uma das principais causas de morte no país? Quais as causas e os principais sintomas da doença?

A pneumonia é uma doença caraterizada por uma inflamação do parênquima pulmonar; esta inflamação pode ser localizada ou difusa. Como consequência deste processo inflamatório que ocorre a nível do parênquima pulmonar, as trocas gasosas podem estar comprometidas condicionando baixa de oxigénio no sangue e consequente sensação de dificuldade respiratória.

As causas que levam a este processo inflamatório são muito variadas. As infeções por vírus e bactérias são as causas mais frequentes e são as principais responsáveis pela mortalidade por pneumonia. A causa mais comum de pneumonia bacteriana é o streptococcus pneumoniae. Existem outras causas de pneumonias, como a inalação de substâncias em ambiente profissional, a reação adversa a determinados fármacos, a inalação de fungos, a exposição a químicos e a radiações, a pneumonia por aspiração.

Sendo as infeções por vírus e bactérias as causas mais frequentes de pneumonia na comunidade, serão estas pneumonias o objeto desta reflexão.

As pneumonias causadas por agentes infeciosos, vírus ou bactérias, geralmente têm um início súbito de sintomas com febre, por vezes com arrepios de frio, tosse seca ou com expetoração, a dor torácica pode estar presente. O doente pode sentir sensação de mal-estar geral, falta de forças e falta de apetite. A sensação de falta de ar ou dificuldade respiratória ocorre em formas mais graves de envolvimento pulmonar.

O tratamento é eficaz para a maioria dos casos de pneumonia; no entanto podem ocorrer formas graves, com doença generalizada, ou envolvimento pulmonar extenso que se acompanham de um pior prognóstico. Um pior prognóstico também pode estar associado a casos de doentes com patologias prévias que desenvolvem pneumonia. A poluição, os hábitos tabágicos e o alcoolismo estão entre os fatores que predispõem ao aparecimento de pneumonia e ao desenvolvimento de complicações.

No entanto, há ainda a pneumonia atípica que não cursa com os sintomas mais frequentes… Quais os sinais que podem alertar para a patologia?

As pneumonias atípicas são menos frequentes, não diferindo os sintomas substancialmente dos atrás referidos; apenas a realçar que, em geral, são com mais frequência acompanhadas de dores musculares com maior atingimento do estado geral. Podem surgir outros sintomas, por vezes relacionados com o atingimento de outros órgãos, dependendo do tipo de bactéria responsável pela doença e do envolvimento de outros órgãos.

Sabe-se ainda que as crianças e os idosos são mais suscetíveis a esta infeção. O que faz destes os principais grupos de risco e quais os principais cuidados a ter nestas faixas etárias?

As crianças mais jovens e os idosos têm uma suscetibilidade aumentada para o desenvolvimento de pneumonia e para o aparecimento de formas mais graves, porque há uma menor capacidade de resposta do sistema imune. Há doenças que podem interferir, diretamente ou através de imunossupressão causada por terapêuticas, com a capacidade de resposta do sistema imune do hospedeiro, colocando o portador dessa doença em grupo de risco.

Qual a importância da vacinação, em matéria de prevenção? Quem pode e deve ser vacinado para se proteger desta infeção e quais as vacinas disponíveis no país?

A vacinação tem um papel fundamental na prevenção da pneumonia, sendo o objetivo da vacinação dirigida a agentes responsáveis por causar pneumonia – vacina pneumocócica - ou prevenindo doenças que facilitam o desenvolvimento de pneumonia – vacina da gripe. A vacina HIB previne a pneumonia por Haemophilus em crianças. A importância da vacinação, em termos de prevenção, justifica a publicação pela Direção Geral da Saúde (DGS) de normas de administração da vacina da gripe (03/10/2018) e da vacina da pneumonia pneumocócica (06/11/2015). Estas normas da DGS definem os grupos de risco com indicação para vacinação e também os grupos de doentes a quem estas vacinas devem ser administradas gratuitamente.

Como é feito o seu diagnóstico e qual o tratamento indicado para a pneumonia?

A suspeita do diagnóstico de pneumonia é baseada nos sintomas do doente mas a confirmação obriga à realização de uma radiografia torácica.

Os antibióticos são os medicamentos de eleição para o tratamento da pneumonia bacteriana. Há recomendações da Direção Geral de Saúde para orientação da antibioterapia para as pneumonias mais comuns da comunidade. Para formas mais graves, ou outras causas de pneumonia, a orientação terapêutica tem de ser definida especificamente para cada caso.

Relativamente ao seu prognóstico, pode afirmar-se que é uma doença fácil de tratar?

Na maior parte dos casos de pneumonia adquirida na comunidade, o prognóstico é favorável. Há recomendações específicas para instituir o tratamento antibiótico adequado, conduzindo à cura da doença sem sequelas e sem risco de recidiva. O prognóstico menos favorável depende da extensão da doença inicial, da agressividade do agente causal, da existência de patologias prévias ou de outros fatores de risco, da necessidade de o doente fazer tratamentos imunossupressores.

Quais as principais complicações associadas a esta patologia?

As complicações mais frequentes são a insuficiência respiratória, o derrame pleural, agravamento de sintomas relacionados com comorbilidades (patologia cardíaca, renal, diabetes).

Qual o principal desafio no seu tratamento? Embora já muito se tenha falado na crescente resistência aos antibióticos, esta tem vindo a representar um dos principais obstáculos no que diz respeito a recuperação da doença… Que cuidados devemos ter quanto a esta matéria?

O principal desafio, na abordagem da pneumonia, reside na importância de termos uma confirmação precoce do diagnóstico, na avaliação da gravidade inicial, na identificação de fatores de risco para gravidade e na identificação de fatores que apontem para diagnóstico etiológico. A resistência aos antibióticos é um problema da medicina atual, em pneumonias da comunidade a prescrição adequada e a toma correta dos antibióticos é o melhor caminho na prevenção de resistências.

No âmbito do Dia Mundial da Pneumonia, que mensagem gostaria de deixar?

A etiologia infeciosa é a principal causa de pneumonia pelo que a prevenção é essencial no controlo da doença, a lavagem frequente das mãos é um passo muito importante na prevenção de transmissão da pneumonia vírica e bacteriana.

Recomenda-se a vacinação da gripe e da pneumonia para todos os indivíduos de risco.

Um estilo de vida saudável é um passo importante para prevenir pneumonia.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Lusíadas Saúde