“Perda de audição começa a ser um problema de saúde pública”
“As dificuldades auditivas nos jovens começam a ser um problema de saúde pública devido ao uso de headphones e à frequência de locais com ruído de alta intensidade”, alerta o Presidente da Associação Portuguesa de Audiologistas, Jorge Humberto Martins.
As razões da perda de audição podem ser diversas mas “atendendo ao envelhecimento da população a principal causa de perda de audição é a idade, ou seja o envelhecimento natural. A esta perda auditiva chama-se presbiacusia”, refere o especialista. Porém as causas do deficit de audição variam consoante a faixa etária. Jorge Humberto Martins explica: “ao nascimento a causa genética tem um grande contributo, já à entrada do ensino formal a patologia do ouvido médio, nomeadamente as otites, são a grande causa da perda de audição que se adicionam às doenças da infância, traumatismos e outras causas de problemas auditivos”.
Na idade adulta, o ruído, a medicação e as doenças aumentam a incidência da perda de audição. No idoso, à presbiacusia adiciona-se todas as perdas de audição que a pouco e pouco se vão adquirindo ao longo da vida.
Em Portugal pouco se sabe acerca da prevalência e incidência deste problema, mas segundo estudos realizados nos Cursos Superiores de Audiologia indicam que a prevalência não é muito diferente da prevalência internacional, sendo que por volta dos 6 anos, a perda de audição por problemas do ouvido médio (e portanto resolúvel), pode chegar aos 7% e a partir dos 65 anos a perda de audição bilateral, pelo menos de grau ligeiro, é uma realidade em quase todos os idosos.
“Também a partir dos últimos censos foi possível recolher alguns dados mas não permitem concluir sobre a prevalência por faixa etária, se a surdez é congénita, pré-lingual ou pós-lingual, não permite obter informação sobre a etiologia da surdez, etc.”, lamenta o especialista.
A implementação de um programa de promoção da saúde auditiva podia permitir o cálculo da incidência – novos casos – uma vez que a perda de audição é algo que se instala ao longo da vida sem que na grande parte das vezes o indivíduo se aperceba e são os familiares ou os amigos que primeiro a “sentem”.
As consequências da perda de audição são diferentes de acordo com a idade de surgimento da deficiência auditiva, por exemplo uma criança com uma perda de audição que não foi ainda diagnosticada pode ser classificada como distraída, irrequieta ou com dificuldades de aprendizagem; uma pessoa idosa terá tendência a isolar-se socialmente e a deprimir por não conseguir compreender a conversação das pessoas à sua volta. Muitas vezes existe vergonha e é um estigma admitir que há uma perda que audição e que é necessário utilizar um aparelho auditivo. Na realidade essa vergonha e estigma não têm razão de existir visto que a perda de audição é tão natural como a perda de visão. A resolução da perda de audição é fundamental para a melhoria da qualidade de vida do indivíduo e é esse o nosso objectivo enquanto profissionais de saúde.
Importância da prevenção
“Mais do que prevenir a perda de audição é fundamental prevenir o seu impacto na vida do indivíduo e naturalmente na sociedade em que se insere”, considera Jorge Humberto Martins. Para que isso aconteça, além de não haver comportamentos de risco, como seja o ouvir música a intensidades elevadas, é fundamental fazer a sua detecção precoce. Para isso, o especialista defende a existência de rastreios, desde o nascimento à velhice, de um modo organizado e universal.
A valorização da audição acontece como em relação a outras situações: só é dada quando começam a sentir os efeitos da perda. “Acresce o facto que a audição é um problema que não se vê pelo que qualquer que seja a faixa etária muitas vezes é confundida por má vontade, distracção, demência ou mesmo burrice do indivíduo”, comenta o especialista.
A ciência da Audiologia
A Audiologia é a ciência que estuda a audição e o equilíbrio pelo que previne, identifica, avalia e re(h)abilita/trata perturbações nestas funções.
Em Portugal, é a licenciatura em Audiologia que permite aceder à cédula profissional passada pelo ministério da saúde que atesta a capacidade de exercer a profissão de Audiologista, uma profissão de saúde devidamente regulamentada, mas uma área pouco valorizada. Na opinião de Jorge Humberto Martins, “poder-se-á dever à pouca visibilidade que a profissão e os seus profissionais tiveram até à actualidade”.
Por outro lado, este facto também se poderá ficar a dever “à inexistência de legislação que regulamente a venda dos auxiliares de audição. Estes auxiliares de audição, nomeadamente aparelhos auditivos, que permitem a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos, deveria ser considerados produtos de saúde e, como tal, ter a sua venda exclusivamente subsequente a todo um processo de reabilitação auditiva de que faz parte não só a adaptação do auxiliar de audição mas também o aprender a voltar a ouvir”.
A reabilitação auditiva é um processo complexo, demorado, individual e adaptado às vivências e necessidades do indivíduo. “A inexistência de legislação que regulamente a comercialização destes equipamentos permite que esta seja efectuada por indivíduos sem qualquer formação académica para o efeito”, alerta.
Dia Mundial do Audiologista comemorado pela primeira vez
Foi a 10 de Outubro de 2014 que em Portugal se comemorou pela primeira vez o Dia Mundial do Audiologista. “Este dia permitiu que a Audiologia enquanto ciência e o Audiologista enquanto profissional fossem mais falados nos órgãos de comunicação social e tenha chegado um pouco mais de informação à população”, disse Jorge Humberto Martins.
Segundo o mesmo especialista a comemoração deste dia teve a sua origem em países em que a profissão é mais valorizada, por isso o objectivo da Associação em se associar a esta efeméride foi o de contribuir para a melhoria da informação fornecida à população sobre os cuidados a ter com a sua audição e naturalmente sensibilizar as pessoas que possuam este problema que devem recorrer a profissionais credenciados para a avaliação e reabilitação da sua perda auditiva.
As acções desenvolvidas nesse dia permitiram uma maior exposição à comunidade civil da profissão, do profissional e da associação. Contudo, refere o especialista “sentimos que muito mais deverá ser feito no campo da divulgação dos cuidados de saúde auditiva desde a nascença até à idade adulta e com uma cada vez maior importância na população idosa”.