Alergias da Primavera

Para muitos portugueses a chegada da primavera é sinónimo de alergia

Atualizado: 
15/04/2019 - 15:11
Comichão, pingo no nariz, espirros, “pigarro” e tosse são alguns dos principais sintomas de doença alérgica sazonal. Com a ajuda a imunoalergologista Maria João Vasconcelos, explicamos quais as causas e o que deve fazer para se proteger.

A alergia surge quando o sistema imunológico reage excessivamente a uma ou mais substâncias estranhas (alergénios), geralmente inofensivas para a maioria da população, levando ao aparecimento de um conjunto de sinais e sintomas, reprodutíveis aquando da exposição ao mesmo estímulo.

A prevalência das doenças alérgicas tem vindo a aumentar nos países desenvolvidos, principalmente nas regiões urbanas, estimando-se que possam atingir cerca de 30% da população. Em Portugal os ácaros do pó doméstico são os principais responsáveis pelas doenças alérgicas, com manifestações ao longo de todo o ano, mas que se podem agravar nos meses da primavera. No entanto, alguns doentes encontram-se assintomáticos na maioria do ano e apresentam sintomas apenas na primavera.

Tal ocorre associado ao pico da polinização, levando a uma rápida elevação da concentração de pólenes no ar. Estes entram em contacto com a mucosa do nariz, olhos e brônquios e são capazes de induzir uma reação alérgica em indivíduos susceptíveis. Em Portugal, a principal causa de alergia a pólenes são as gramíneas, que polinizam no início da primavera e atingem o seu pico nos meses de Maio e Junho. Também é frequente a sensibilização à erva parietária (grupo das ervas daninhas) e às árvores (principalmente oliveira).

Os sintomas a que deve estar atento são muito diversos e podem apresentar diferentes graus de gravidade. O nariz é o órgão mais afetado com sintomas muito característicos como comichão, pingo do nariz, espirros, “pigarro” e tosse, rinite alérgica. Frequentemente estes sintomas são acompanhados de queixas oculares, a conjuntivite alérgica que se manifesta por comichão, olho vermelho, lacrimejo e inchaço. Comichão no céu da boca e nos ouvidos é também comum.

Durante esta altura podem surgir ainda sintomas de asma, que se apresentam como sensação de falta de ar, pieira, tosse e aperto do peito.

Por fim, a pele pode também ser afetada com o aparecimento de comichão e de lesões avermelhadas (urticária, eczema). Frequentemente sintomas de diferentes órgãos surgem em simultâneo. 

Apesar de estas queixas serem habitualmente pouco valorizadas, tanto em crianças como em adultos, podem apresentar, num subgrupo de doentes, um importante impacto na qualidade de vida, com interferência no sono e nas atividades diárias, estando associadas não só a absentismo laboral e escolar como principalmente a uma menor produtividade profissional e rendimento escolar. 

A confirmação do diagnóstico de alergia deve ser efetuada por um médico especialista em Imunoalergologia, através da história clínica, testes cutâneos e estudo analítico, sendo essencial identificar os pólenes envolvidos, para o planeamento do tratamento e prevenção de agudizações.

A forma mais eficaz de combater os sintomas alérgicos sazonais, é através de um tratamento individualizado, adequado à gravidade clínica, e que pode incluir anti-histamínicos e anti-inflamatórios locais. Em casos selecionados, o imunoalergologista pode indicar uma imunoterapia específica, conhecida como “vacina antialérgica”. A sua eficácia e segurança encontra-se comprovada e tem como objetivo reduzir a longo prazo a resposta alérgica e diminuir a necessidade de uso de medicamentos.

Para além do tratamento apropriado, a prevenção é fundamental na doença alérgica. Apesar de ser impossível eliminar os pólenes da atmosfera, existem várias medidas que minimizam os sintomas.

Uma vez que concentrações dos pólenes existentes no ar, dependem da época de polinização, que é específica para cada planta (coincidindo na maioria com a primavera) e varia de ano para ano, aconselha-se a consulta regular do Boletim Polínico disponibilizado online pela Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica e pela Rede Portuguesa de Aerobiologia, (https://www.rpaerobiologia.com), onde consta a concentração polínica semanal de cada região. De salientar, ainda, que os níveis de pólenes no ar são mais elevados com o tempo quente, seco e ventoso, predominantemente nas primeiras horas da manha. Assim, nos dias em que se prevejam níveis mais elevados de pólenes é possível reforçar, não só o tratamento, como as medidas de proteção, nomeadamente: evitar viagens para áreas de elevada polinização, evitar atividades ao ar livre, fechar as janelas de casa e do carro quando as concentrações dos pólenes forem elevadas, usar óculos escuros de forma a evitar a exposição ocular e,  no caso dos motociclistas, recomenda-se uso de capacete integral.

As doenças alérgicas, apesar de cada vez mais prevalentes, continuam a ser subdiagnosticadas e subtratadas. Os doentes devem ser informados sobre as suas alergias, de forma a otimizarem a prevenção das manifestações e o controlo dos sintomas, o que permitirá a obtenção de uma melhor qualidade de vida.

Autor: 
Dra. Maria João Vasconcelos - Imunoalergologista
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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