Osteoartrite e inflamação
Apesar de a osteoartrite poder afectar qualquer articulação, as mais frequentemente afectadas são o joelho, anca, coluna e mãos, sendo a do joelho, a mais estudada e conhecida.
A osteoartrite possui uma origem complexa e está associada a múltiplos factores de risco, designadamente à idade, traumatismo da articulação, alterações biomecânicas e obesidade, entre outras. Assim, a osteoartrite deve ser considerada como uma doença complexa que ocasiona incapacidade de uma ou mais articulações pela perpetuação da destruição da articulação.
Contrariamente ao que se tem passado em outras doenças, na osteoartrite o tratamento mantém-se limitado ao controlo da dor sem que existam fármacos que previnam ou impeçam a progressão da doença, isto é, não existem ainda medicamentos específicos que consigam alterar o curso da osteoartrite.
Inflamação e osteoartrite
Estudos recentes da osteoartrite identificaram a presença de mediadores da inflamação no fluido sinovial e no plasma dos doentes, particularmente citoquinas havendo também dados que sugerem existir um estado de inflamatório geral associado à osteoartrite. Análises epidemiológicas demonstraram níveis séricos elevados de proteína C reactiva fortemente associados à presença e progressão de osteoartrite do joelho.
Já se tornou claro que a inflamação está presente nas articulações surgindo mesmo antes de se desenvolverem alterações radiológicas correspondentes à degeneração visível da cartilagem e ainda um estado de inflamação crónica que parece constituir factor de degeneração da articulação. Uma lesão inicial, quer seja aguda, subaguda ou crónica, induz uma resposta inflamatória que ocasiona perda posterior da cartilagem e lesão progressiva da articulação.
Com base nestes dados, parece que deveriam existir medicamentos que actuassem nas fases iniciais inflamatórias da osteoartrite para alterar o curso do processo inflamatório e que fossem eficazes na prevenção e tratamento da osteoartrite.
Inflamação como alvo para a modificação da evolução da osteoartrite
Até ao momento não existem medicamentos cujo efeito se dirija à modificação dos efeitos da evolução da doença sobre a progressão estrutural da osteoartrite.
Utilizam-se actualmente os anti-inflamatórios não esteróides (AINE), selectivos e não selectivos, a injecção intrarticular de ácido hialurónico ou de corticosteróides e analgésicos opióides, que apenas se destinam ao alívio dos sintomas.
Os principais desafios que se colocam na criação de medicamentos que alterem o desenvolvimento da osteoartrite incluem a necessidade de melhorar os processos de medição das alterações estruturais e a compreensão do estadio da doença. Considera-se também como desafio, o facto de a osteoartrite ser um estadio final de um conjunto de processos e factores predisponentes que se seguem à lesão inicial, não existindo estudos dirigidos à fase inicial da osteoartrite, altura em que a intervenção anti-inflamatória poderia ser mais efectiva.
Há autores que admitem que a capacidade de identificar e quantificar a sinovite antes de ocorrer a deficiência irreversível da articulação pode ser prometedora para o tratamento de inflamação antes de ser visível radiologicamente. Considera-se prometedor que o conhecimento de factores de risco para a osteoartrite e o desenvolvimento de técnicas imagiológicas, capazes de visualizar precocemente alterações da cartilagem e a sinovite, permitirá identificar os indivíduos em risco e que podem beneficiar de tratamento anti-inflamatório precoce.
Bibliografia
Jeremy Sokolove, Christin M. Lepus. Role of Inflammation in the Pathogenesis of Osteoarthritis. Latest Findings and Interpretations. Ther Adv Musculoskel Dis. 2013; 5(2):77-94.