Ortóptica: o que é?
A palavra ortóptica remonta ao século VII, às palavras gregas “ortho optikos” (olhos direitos), como primeira abordagem prática do tratamento do estrabismo.
No anexo, do decreto-lei nº 261/93 de 24 de julho, a ortóptica é regulamentada como aquela que desenvolve “atividades no campo do diagnóstico e tratamento dos distúrbios da motilidade ocular, visão binocular e anomalias associadas; realização de exames para correção refrativa e adaptação de lentes de contacto, bem como para análise da função visual; avaliação da condução nervosa do estimulo visual e das deficiências do campo visual; programação e utilização de terapêuticas especificas de recuperação e reeducação das perturbações da visão binocular e de sub-visão; ações de sensibilização, programas de rastreio e prevenção no âmbito da promoção e educação para a saúde.”
Então, desmistifiquemos, a ortóptica não representa a área da saúde que trata dos ossos ou dentes (como muitos equacionam a partir da palavra), “ela” dedica-se aos olhos, “ela” complementa a oftalmologia com os seus exames de diagnostico, “ela” pesquisa cada detalhe para prevenir ou adequar o melhor tratamento possível. É especialista na motilidade ocular, sendo a sua ação primária nos estrabismos, visão binocular, tratamento da insuficiência de convergência e das ambliopias (olho preguiçoso), ajuda na deteção de patologias como: glaucoma, cataratas, retinopatia diabética, degenerescência macular ligada à idade, alterações neurológicas da visão e faz o seguimento de casos de baixa visão.
É também responsável por colaborar com os oftalmologistas no pré e pós operatório. E, ainda, integra equipas de investigação. Versátil, curiosa, delicada e dedicada é como se define esta área profissional.
Os Ortoptistas, assim se designam os técnicos que desempenham as atividades que a ortóptica assume, incorporam o grupo dos Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica (TDT). Com a expansão da tecnologia em saúde, estes técnicos vêem a sua ação cada vez mais alargada. Para além da avaliação visual, e análise refrativa, exames como a ecografia ocular, microscopia especular, topografia corneana, biometria com cálculo de lente intra-ocular, tomografia de coerência óptica de segmento anterior e posterior, fotografias da retina (com e sem contraste), e mais recentemente o OCTA (tomografia de coerência óptica – com angiografia associada) fazem parte do dia-a-dia destes profissionais de saúde, que têm como objetivo principal potenciar a saúde da visão, em todas as suas vertentes. Estes profissionais estão aptos a atuar perante todas as idades, sendo tão importante junto dos recém-nascidos como dos mais idosos. Desde a primeira fase da sua formação que desenvolvem um “olho” clínico, porque a sua intervenção depende da sua observação.
Mas, afinal onde se encontram estes profissionais que nem sempre se ouve falar? Os ortoptistas têm como base de formação a área da saúde e integram equipas multidisciplinares, desenvolvendo a sua atividade em hospitais, clínicas, centros de saúde, ópticas, participam em rastreios visuais junto da população (também em escolas e infantários), e centros de investigação.
O sentido da visão é responsável por cerca de 80% da informação exterior que recebemos, motivo pelo qual esta profissão tem uma responsabilidade acrescida no bem-estar biopsicossocial do indivíduo.
«O olho é a janela do corpo humano pela qual ele abre os caminhos e se deleita com a beleza do mundo. …Ora, não percebeis que com os olhos alcançais toda a beleza do mundo? O olho é o senhor da astronomia e o autor da cosmografia; ele desvenda e corrige toda a arte da humanidade; conduz os homens às partes mais distantes do mundo; é o príncipe da matemática, e as ciências que o têm por fundamento são perfeitamente corretas. O olho mede a distância e o tamanho das estrelas; encontra os elementos e suas localizações; ele... deu origem à arquitectura, à perspectiva, e à divina arte da pintura... Que povos, que línguas poderão descrever completamente sua função!» (Leonardo da Vinci 1452-1519)
Leonardo da Vinci não foi ortoptista, mas poderia ter sido...