OMS quer estratégia global contra crise de obesidade infantil
A Comissão para o Fim da Obesidade Infantil da Organização Mundial da Saúde (OMS) tem a tarefa de criar uma estratégia global de combate ao problema, que afecta 44 milhões de crianças entre os 0 e os 5 anos de idade. Em 1990, eram 31 milhões, e a tendência é para continuar o aumento. A agência prevê que em 2025, o mundo poderá ter 70 milhões de menores obesos ou acima do peso. Esta foi a principal conclusão da primeira reunião da Comissão. “As crianças estão a consumir mais calorias e a gastar menos”, explicou à Rádio ONU o médico João Breda, responsável da comissão.
“Então temos um problema de excesso de calorias, de energia, proveniente dos alimentos, principalmente de açúcar e gorduras. Ao mesmo tempo, um baixo nível de actividade física, sobretudo devido a algumas actividades sedentárias, como ver muita televisão, vídeo jogos e outras actividades que por natureza são relativamente sedentárias. Energia a mais e gasto a menos. Este é o grande problema”, afirmou.
Segundo o médico, o ideal é que as crianças façam alguma actividade física durante pelo menos uma hora todos os dias, incluindo brincadeiras que exijam movimentação.
Entre as consequências da obesidade em crianças, estão doenças cardiovasculares, resistência à insulina, problemas nas articulações, ossos e músculos, deficiência e até cancro.
O médico da OMS afirma ser possível inverter o quadro com atitudes simples, o que não implica necessariamente proibir o consumo de alimentos industrializados.
“Eu não diria que proibir é o mais importante. Se as crianças têm um acesso muito facilitado a refrigerantes, a produtos com gorduras e açúcar e que são, obviamente, produtos que as crianças gostam, limitar de alguma maneira o acesso a esses produtos é importante. Nós queremos promover o crescimento das crianças e o seu desenvolvimento, mantendo mais ou menos o seu peso estável. Para isso, joga um papel fundamental a promoção da actividade física”, salienta.
O especialista em nutrição da OMS explica ainda que crianças amamentadas durante mais tempo têm menos risco de serem obesas. E a partir da primeira infância, é importante a alimentação com frutas, hortaliças e legumes.
Na reunião, que decorre até sexta-feira, a Comissão para o Fim da Obesidade Infantil vai discutir ainda o papel da indústria de alimentos para crianças e quais as melhores políticas públicas para inverter a crise.
Mais de 20% das crianças obesas do mundo estão em África
O mundo tem 44 milhões de crianças obesas ou com excesso de peso, 10 milhões das quais estão em África, revelou a mesma comissão. Em 1990, o continente tinha apenas 4 milhões de crianças obesas e a tendência de aumento preocupa a agência.
O gestor de Nutrição e Obesidade da agência na Europa explica que mesmo crianças acima do peso podem não estar a receber vitaminas e nutrientes essenciais.
“É um problema muito sério. Cada vez mais, temos crianças na Ásia e em África onde o excesso de peso se transformou numa coisa muito, muito séria. Além disso, os hábitos alimentares também mudaram aí, onde os produtos altamente processados, ricos em açúcar e gorduras são cada vez mais frequentes. Refrigerantes são muito ricos em açúcar e há muitos grupos de alimentos que naturalmente estão mais relacionados com a obesidade infantil”, disse João Breda.
65% das crianças comem doces todos os dias
A grande maioria das crianças de quatro anos come doces diariamente e snacks salgados várias vezes por semana. Um estudo concluiu também que apenas 40% ingerem quantidades adequadas de frutas e hortícolas.
As conclusões sobre a alimentação das crianças com quatro anos fazem parte de uma investigação mais abrangente, designada Geração XXI, que está a estudar, desde o nascimento, em 2005, cerca de 8700 crianças, e as respectivas famílias, da região do Grande Porto.
O elevado consumo de alimentos fortemente açucarados - 65% comem bolos ou doces todos os dias - é uma das evidências mais preocupantes, segundo Carla Lopes, investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) e uma das autoras do estudo. "O adequado seria que os doces fossem consumidos uma ou duas vezes por semana", sublinha a nutricionista.
Outro indicador da ingestão excessiva de açúcares é a frequência com que as crianças bebem refrigerantes e néctares: 52% fazem-no todos os dias. O ice tea é o mais popular porque há a ideia, falsa, sublinha Carla Lopes, de que é chá, quando na realidade é um refrigerante cheio de açúcar e de calorias vazias de valor nutricional.