Observatório para analisar condições de vida dos portugueses
“A ideia é tentar compreender melhor o que se passa com as populações, a forma como vivem, como se encontra a saúde e a sua qualidade de vida”, disse a investigadora do Observatório para as Condições de Vida (OCV), Ana Rajado.
A investigadora explicou que o projecto agrega investigadores de várias áreas do conhecimento e de diferentes instituições que pretendem estudar as questões relacionadas com o trabalho, saúde, educação, habitação, estado social, segurança social e a dinâmica de populações.
O observatório é apresentado na quinta-feira, em Lisboa, numa sessão pública em que será debatida a “evolução das condições de vida das populações e saúde”, uma área que os peritos consideram “urgente trabalhar e compreender melhor, sublinhou.
Isabel do Carmo, endocrinologista e uma das fundadoras do projecto, acrescentou que, “antes de tudo, é necessário considerar que a saúde não depende só dos cuidados de saúde”.
“Depende das condições em que as pessoas vivem e a verdade é que nos últimos três anos, vai para quatro, as condições de saúde das populações têm-se degradado”, disse Isabel do Carmo.
A “prova disso” é o facto de um quarto da população viver abaixo do limiar da pobreza, uma situação que levou à degradação das “condições de habitação, de alimentação e também, infelizmente, de acesso aos cuidados de saúde”. A especialista explicou que observatório pretende “aplicar uma análise científica à situação actual” da população, dando resposta às hipóteses que se vão colocando nas várias áreas.
“Eu posso pôr a hipótese que, neste momento, já há pessoas com insuficiência de calorias e com carências a nível de vitaminas e sais minerais, mas tenho de a provar” do ponto de vista científico, explicou.
Também “há hipóteses muito fortes de deterioração das condições de vida e de trabalho das pessoas mas é preciso fazer investigação sobre isso”, sustentou.
Mas também “há situações que já são objectivas”, como o aumento dos casos de pneumonia nos últimos três anos, constatado através de dados e que a própria Sociedade Portuguesa de Pneumologia já apontou como provável causa para esse aumento as condições em que as pessoas vivem.
“É perfeitamente lógico porque as pessoas vivendo em piores condições estão mais fragilizadas em relação às infecções”, disse a endocrinologista, apontando ainda a situação nas urgências hospitalares. “A questão das urgências também não é hipótese porque já se percebeu que houve uma ruptura do Serviço Nacional de Saúde”, frisou.
Ana Rajado adiantou que um dos objectivos do observatório é criar um indicador de bem-estar para “tentar compreender qual é o mínimo necessário para as pessoas viverem com alguma qualidade e, sobretudo, com saúde”. É necessário as pessoas “ter algum nível de bem-estar, que neste momento não existe para a maioria das pessoas”, lamentou.
“Nós queremos que o observatório ajude de alguma forma a clarificar e a informar as pessoas e, eventualmente, ter algum reflexo na melhoria de vida” da população, acrescentou.