O uso de aparelhos auditivos pode retardar a demência cognitiva
No âmbito desta efeméride será divulgado ainda um estudo que está a ser realizado por especialistas em otorrinolaringologia das mais reconhecidas instituições em todo o mundo em conjunto com o Centro de Investigação e Estudos da Amplifon, que tem por objectivo provar os benefícios do uso de aparelhos auditivos na demência.
Sabemos que a perda auditiva está relacionada com o declínio auditivo acelerado e com a demência cognitiva, mas será que a amplificação auditiva pode melhorar, a curto e longo prazo, a capacidade cognitiva?
É o que estão a investigar os especialistas, com a análise de diversos estudos clínicos realizados que analisam o benefício dos aparelhos auditivos na preservação e, também, na melhoria das capacidades cognitivas.
Existe de facto uma grande relação entre a perda auditiva, a demência e o declínio cognitivo.
Alguns estudos recentes1 mostram até que nas pessoas com uma perda auditiva leve, moderada e grave multiplica-se por 2, 3 e 5 vezes, respectivamente, a probabilidade de vir a desenvolver demência, em comparação com as pessoas com uma audição normal.
E embora ainda não seja conhecida a relação específica entre o défice auditivo e a demência, os investigadores sugerem que o aumento do “esforço do cérebro” ao longo dos anos para descodificar os sons e convertê-los em informação pode tornar estas pessoas mais vulneráveis à doença, bem como, o maior afastamento e isolamento social destas pessoas, que é já um conhecido factor de risco para a demência.
Surge então a questão se será possível parar os efeitos da perda auditiva no declínio cognitivo através da amplificação auditiva, com uma intervenção precoce assim que se observam os primeiros problemas de comunicação causados por este problema. Muitos estudos foram desenvolvidos com objectivo de analisar o efeito a longo prazo da amplificação sobre a cognição e os resultados foram positivos.
Os vários estudos demonstraram que a amplificação da audição provoca uma melhoria importante do rendimento mental em comparação com os pacientes que não utilizavam amplificação2, melhorias na capacidade da memória de trabalho3, melhorias do estado mental geral4 e até melhoria na capacidade de aprendizagem5.
Embora o uso de aparelhos auditivos se associe a níveis mais baixos de declínio cognitivo e do risco de problemas cognitivos entre as pessoas com perda auditiva, as provas que apoiam o efeito positivo a longo prazo da amplificação são ainda escassas. Apesar do efeito positivo que os aparelhos auditivos possam ter sobre a qualidade de vida geral, o papel da amplificação sobre a cognição requer ainda uma investigação mais profunda.
E segundo os investigadores, se se puder demonstrar clinicamente que os aparelhos auditivos ajudam a adiar o início da demência, os benefícios podem ser extremamente valiosos.
A importância deste estudo aumenta com as estimativas das Nações Unidas para 2050, quando a população com mais de 60 anos chegará aos 1,95 mil milhões de pessoas. Esta situação vai comportar o aumento do número de pessoas com demência que, neste momento, segundo a OMS se situa nos 36 milhões e que se prevê que triplique em 2050.
“Actualmente, 590 milhões de pessoas em todo o mundo têm problemas de audição. Com o crescimento constante da população mundial, se tivermos em conta que mais de 40% das pessoas entre os 60 e os 69 anos sofrem uma perda significativa da audição é de esperar que esta situação duplique em 2050 até alcançar quase 1,2 mil milhões de pessoas com problemas de audição e consequentemente com uma disfunção cognitiva muito acrescida”, explica Celso Cruz Martins, Director Técnico da Amplifon e Audiologista no Centro Hospitalar do Porto.
O especialista acrescenta, “Avaliando os estudos que têm sido realizados e a previsão dos dados demográficos, vemos o quão importante é incentivar esta população, por um lado, à prática de actividade física, e por outro, à sua envolvência e convívio social que lhe permita manter-se activa e desperta para os estímulos visuais e sonoros que se encontram à sua volta, de modo a permitir a que este prolongar dos seus dias seja também sinónimo de qualidade de vida”. Segundo o Dr. Celso é também importante estar atento aos primeiros sinais de défice auditivo e realizar exames auditivos regulares, para que haja um diagnóstico e intervenção precoce evitando assim os danos da surdez.
Por este motivo, todos os interessados em avaliar o estado da sua audição gratuitamente, poderão fazê-lo durante o próximo dia 26 de Setembro em qualquer Centro Amplifon de norte a sul do país: www.amplifon.pt.
1 Uhlmann et al, JAMA 1989 & Lin et al, Arch Neurol, 2011
2 Mulrow et al, 1990
3 Lehrl et al, 2005
4 Acar et al, 2010
5 Choi et al, 2011