O sono e Deus: «a sesta está patente em textos sagrados»
O sono é um pilar estruturante de uma vida saudável. Foram estabelecidas regras da vida quotidiana para atingir um sono repousante e eficaz. Infelizmente, e apesar da curiosidade e interesse terem aumentado nos últimos anos, ainda não há um reconhecimento social suficientemente lato da sua importância
Ora, a religião, sendo uma emanação de hábitos e culturas dos povos e da sua adaptação ao ambiente onde vivem, traz-nos múltiplos ensinamentos fascinantemente corretos sobre o sono, antecipando por milhares de anos a ciência moderna.
Nos Livros das Grandes Religiões Proféticas (Cristianismo, Judaísmo e Islamismo) a importância do sono está profusamente representada.
Compreensivelmente, e antes de mais, como sinal de grandeza de Deus e da crença do homem primitivo que Este o pode proteger dos predadores e outros inimigos no período vulnerável do sono.
Mas a necessidade de dormir, mesmo em condições de segurança, para assegurar um dia ativo, emerge como preceito nas três religiões. Todas dão importância ao ritmo do sono e vigília, à obscuridade e à luz, à harmonia com a natureza e os outros seres vivos. O conceito de que a noite precede o dia é claro.
Muito antes da neurofisiologia atual, foram identificadas diferentes fases do sono: o adormecimento, o sono profundo e o sono dos sonhos.
Normas que foram estabelecidas e praticadas ao longo dos séculos. O decúbito lateral (dormir em posição lateral), por exemplo, que, sabemos hoje, diminui os sintomas das perturbações respiratórias e cardíacas.
A sesta está patente em textos sagrados. Não apenas a sesta curta de 20-30 minutos como forma de melhorar as capacidades cognitivas, mas também períodos mais prolongados de sono diurno. Sabemos que o sono está associado ao arrefecimento corporal, o que pode constituir uma estratégia da adaptação às temperaturas elevadas das regiões de onde as religiões são provenientes.
As últimas orações, após o por do sol, representam um ponto de rutura com a atividade do dia e a preparação para o sono; o trabalho e as discussões chegam mesmo a ser interditados. Ora o relaxamento e a meditação constituem uma das atuais regras de higiene de sono.
Claro que nem tudo nos parece adequado. No verão, com noites curtas, os preceitos podem levar a sonos mais curtos do que seria desejável, mas, mesmo aí, temos de admitir que haja fatores de adaptação e compensação.
Enfim, Deus não dorme, mas cuida que a humanidade o faça.
Dr. Joaquim Moita - Presidente da Associação Portuguesa do Sono