O que são as Doenças Inflamatórias do Intestino
Colite ulcerosa e Doença de Crohn - são estas as duas patologias a que nos referimos quando falamos de doenças inflamatórias intestinais.
São doenças de causa ainda desconhecida e têm em comum a presença de inflamação de gravidade variável e em maior ou menor extensão do tubo digestivo. Não são doenças com manifestações contínuas podendo evoluir por surtos e com períodos de remissão que podem ser mais ou menos longos.
No caso da colite ulcerosa atinge somente o cólon (intestino grosso) e sempre o recto e uma parte mais ou menos extensa do restante intestino mas unicamente a parede interna deste (mucosa).
A doença de Crohn pode atingir qualquer segmento do tubo digestivo, desde a boca ao ânus, e a inflamação atravessa toda a parede do tubo digestivo, mais frequentemente da parte terminal do intestino delgado (íleo) e do cólon.
Tem havido um aumento de incidência destas doenças a nível mundial sobretudo nos países desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento. Em Portugal a prevalência é intermédia e estima-se que existam cerca de 150 doentes por cada 100000 habitantes para ambas as doenças, com predomínio do sexo feminino na D. Crohn e do masculino na colite ulcerosa. Há um pico de incidência entre os 15-40 anos e um segundo pico entre os 50-80 anos.
Os sintomas são mais variáveis na D. Crohn do que na colite ulcerosa e por vezes passam anos antes de se fazer o diagnóstico. Fadiga, diarreia prolongada com dor abdominal, presença de sangue e muco nas fezes, perda de peso e febre são sintomas frequentes. Também pode haver manifestações extraintestinais que podem envolver ossos e articulações, pele, olhos e o sistema hepato-biliar.
O diagnóstico é habitualmente estabelecido, perante uma história clinica sugestiva, por estudo imagiológico (Tac, ressonância magnética, ultrassonografia) ou endoscópico. A colonoscopia com observação da parte terminal do intestino delgado(íleo) é assim, nestas doenças, de importância major.
Na colite ulcerosa observa-se sempre inflamação da mucosa do recto com maior ou menor extensão aos restantes segmentos do cólon e o envolvimento é contínuo. Na D. Crohn existem áreas afectadas alternando com áreas livres de doença podendo haver ulcerações, formação de lesões semelhantes a pólipos e, por intensa inflamação, pode mesmo haver zonas de estreitamento do intestino(estenoses) e formação de fístulas para outros órgãos ou mesmo abcessos. A área peri-anal pode ser particularmente afectada nesta doença. Durante os exames endoscópicos são colhidos pequenos fragmentos (biopsias) da parede interna do intestino(mucosa) que após observação ao microscópio contribuem para melhor orientar um diagnóstico final.
A endoscopia digestiva alta que observa o esófago, estômago e a primeira parte do intestino delgado (duodeno) e a cápsula endoscópica que após deglutida tem a capacidade de filmar todo o trajecto do intestino delgado, detectando assim as áreas abrangidas pela doença, são também exames importantes no estudo da D. Crohn.
Não estando a dieta implicada no aparecimento ou agravamento destas doenças é no entanto importante restringir a ingestão de alimentos com alto teor de fibra em períodos de diarreia ou em doentes em que se saiba que há zonas do intestino já estreitadas (estenoses).
Os hábitos tabágicos são fortemente desaconselhados na D. Crohn e o uso de fármacos como a aspirina e os chamados anti-inflamatórios não esteroides (ex. brufen, voltaren) são interditos nestas doenças.
Como em todas as doenças, mas particularmente nestas, a relação do doente com o seu médico, neste caso o Gastroenterologista, é fundamental e o controlo de estados de ansiedade e de grande stress emocional devem ser controlados pois, ao poderem diminuir a imunidade, podem contribuir para o agravamento das doenças com episódios de exacerbação.
Sendo doenças benignas podem, no entanto, interferir bastante com a qualidade de vida dos doentes. O tratamento não podendo ser curativo porque não se conhece a causa, tem como objectivo controlar a inflamação, evitar episódios agudos, possíveis complicações, tentando manter os doentes em remissão por períodos de tempo que se desejam longos. Uma actividade inflamatória continuada e não controlada aumenta o risco oncológico e a vigilância endoscópica é essencial após 8 a 10 anos de duração destas doenças.
O tratamento, com o aparecimento de novos fármacos nos últimos anos, tem tido grande evolução. Os chamados tratamentos biológicos são agora utilizados em casos de doenças mais agressivas ou em que haja habituação a tratamentos anteriores. No entanto, nas doenças ligeiras a moderadas, continuam a ser administrados anti-inflamatórios específicos destas doenças (ex: mesalazina) e medicamentos imunosupressores. A cirurgia fica reservada para tratar as complicações ou para situações de intractabilidade médica.
A realidade actual é francamente mais risonha para os nossos doentes, conseguindo-se com consultas programadas e vigilância, um dia a dia mais normalizado. Felizmente, a enorme estigmatização social e profissional que sofriam, num passado ainda recente, parece estar a ser progressivamente ultrapassada.