"Mania" das doenças é entendida como uma doença psiquiátrica

O que é a Hipocondria?

Atualizado: 
09/08/2019 - 11:36
A hipocondria ou “perturbação de ansiedade relacionada com a doença” é uma preocupação irracional em estar ou vir a estar com uma doença grave. Devido à preocupação excessiva que a pessoa demonstra é chamada de “mania das doenças”. No entanto, é importante ter a verdadeira noção do problema. Porque a pessoa acredita que está mesmo doente e perde a capacidade de discernimento.
Homem sentado no chão com a cabeça apoiada nos joelhos

Neste caso, as pessoas não fingem qualquer sintoma nem mentem porque a crença de que têm um problema de saúde crítico é verdadeiramente real.

Quem sofre de hipocondria interpreta qualquer alteração física como um sintoma grave de uma doença, também ela grave. Sintomas normais como batimento do coração, por exemplo, podem fazer com que a pessoa hipocondríaca detete um sinal de doença. Por outro lado, a ansiedade associada à hipocondria pode induzir ela própria certos sintomas corporais, como dores de cabeça, tensão muscular, diarreia, obstipação (prisão de ventre) e tonturas. É uma bola de neve que cresce rápido: os sintomas de ansiedade são amplificados pelos doentes porque eles também os interpretam como sinais de doença grave e tornam-se muito mais dolorosos.

As pessoas com hipocondria auto examinam-se frequentemente, estão constantemente a observar o seu corpo, a apalpar-se para ver se encontram algum nódulo ou sinal estranho no corpo ou a verem ao espelho se está tudo bem por exemplo com a garganta. Muitas vezes, também se auto medicam.

Existem também dois tipos de hipocondríacos, os que procuram incessantemente vários médicos para confirmarem doenças e os hipocondríacos evitantes aqueles que, ao contrário da maioria, evitam a todo o custo hospitais e médicos, com medo que os resultados dos exames indiquem alguma doença grave.

Geralmente, as pessoas hipocondríacas que procuram a confirmação da doença nos médicos e nos exames médicos que realizam não se ficam só por um médico procuram dois, três, quatro, vários para confirmar que não têm mesmo nenhum problema de saúde, ou na ânsia de encontrar um médico que lhes faça o diagnóstico que tanto procuram: uma doença grave ou uma doença terminal, como um cancro, por exemplo. Procuram incessantemente médicos e hospitais para despistar as patologias que acreditam ter e quase nunca acreditam nos diagnósticos que o negam. Por vezes, até atribuem incompetência aos médicos porque desvalorizou determinado sintoma e procuram outro médico que o valide.

As pessoas hipocondríacas medem constantemente os sinais vitais, como a tensão arterial e o ritmo cardíaco e ficam alarmados quando ouvem que alguém ficou doente ou leem alguma notícia relacionada com a doença, identificando-se com os sintomas e pensando que os podem ter. Estas preocupações não abrandam mesmo perante os resultados negativos de exames médicos, nem com a tranquilização de um médico.

Geralmente, a hipocondria começa a manifestar-se no início da idade adulta. Pode surgir em momentos críticos da vida da pessoa ou depois de acontecimentos com grande significado, como por exemplo, lutos, perdas ou separações de alguém próximo.

Muitas vezes descrita como uma doença, a hipocondria não passa de um estado forte de ansiedade, ou seja, do resultado de um medo excessivo de podermos ter uma doença grave que culmine na própria morte.

A hipocondria tem origem num distúrbio de ansiedade, um problema emocional que se caracteriza pelo medo de sentir a própria ansiedade. Quando temos ansiedade, a sensação de medo aumenta, o que gera ainda mais medo, e este processo mental repete-se sucessivamente criando uma espiral de ansiedade. Há um medo excessivo de ter doenças e este medo aumenta quando pensam na possibilidade de as ter, uma vez que estes pensamentos provocam elevados níveis de ansiedade. As pessoas hipocondríacas estão presas neste processo de pensamento.

Por vezes, têm dificuldade em encarar o seu problema como uma perturbação emocional. Têm relutância em procurar ajuda psicológica para eliminar os seus medos excessivos. E, por vezes, quando encaminhados para ajuda psicológica até ficam ofendidos. O normal é, antes de consultarem um psicólogo ou psicoterapeuta, passam por profissionais de todas as especialidades. E o pior é que nem sempre chegam a consultar o psicólogo ou psicoterapeuta!

A hipocondria é considerada uma doença psiquiátrica porque se associa a um grande sofrimento psíquico. Talvez seja por isso que é um tema difícil de falar. A maioria das pessoas com hipocondria sabem racionalmente que é um pensamento irracional e sentem vergonha de falar sobre isto a outras pessoas, porque sendo irracional é difícil mostrar a quem não sofre do mesmo.

O sofrimento de quem vive com hipocondria pode ser minorado e até eliminado com psicoterapia, em que são identificados e trabalhados os pensamentos perturbadores de forma a substitui-los por pensamentos saudáveis.

Qualquer pessoa pode desenvolver este quadro de preocupação excessiva, basta para isso desenvolver um distúrbio de ansiedade. O importante é não ter vergonha em falar sobre o assunto. O preconceito está nas outras pessoas, mas também nos próprios pacientes, que preferem procurar todos os especialistas à procura de doenças físicas do que aceitar que o problema é psicológico. Quem sofre de hipocondria deve procurar ajuda de um psicólogo ou psicoterapeuta que o ajude a diminuir o medo, através de psicoterapia. O doente deve ser descansado e ser tratada a sua doença de base, que não é física, médica, mas psicológica.

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Autor: 
Dra. Carla Oliveira – Psicoterapeuta Clínica da Mente
Nota: 
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