O que é a Epilepsia?
Conhecida desde a antiguidade, já era representada em papiros e atribuída a entidades sobrenaturais. Hipócrates (460-375 A.C.) reconheceu pela primeira vez que a epilepsia é uma doença do cérebro. Todavia, apesar da grande evolução e progresso no conhecimento médico, com novas opções de tratamento farmacológico e cirúrgico disponíveis, vários séculos depois ainda existe bastante desinformação e alguns preconceitos relacionados com esta doença.
A sua incidência é elevada, atingindo cerca de 4 a 7 por cada mil habitantes, e estimando-se que existam cerca de 50 000 a 60 000 doentes com epilepsia em Portugal.
A Epilepsia é caracterizada pela repetição espontânea de crises epilépticas, de diversos tipos e cujas manifestações clínicas são diferentes, de acordo com o local de onde se originam as crises. Poderá manifestar-se por convulsões com contração maciça de toda a musculatura, ou apenas por uma perturbação do comportamento habitual. De uma forma simplista poderemos agrupar em crises focais, originadas em redes limitadas a uma área do cérebro ou em crises generalizadas, que rapidamente atingem as redes neuronais bilaterais.
A distinção entres estas duas categorias tem implicações terapêuticas e prognósticas, por isso é fundamental uma descrição exaustiva das crises com vista a identificar uma síndrome especifica.
O que causa a Epilepsia?
A expressão da epilepsia num indivíduo é o resultado de múltiplos fatores genéticos e ambientais. Esta é uma área em grande evolução e atualmente as causas são agrupadas em (1) Genéticas (2) Estruturais (3) Metabólicas (4) Imunológicas (5) Infeciosas e (6) Desconhecidas.
Como se faz o diagnóstico?
O diagnóstico é fundamentalmente clínico e baseia-se na história clínica, sendo importante a história familiar, os antecedentes pessoais e sobretudo a descrição pormenorizada dos acontecimentos. Na descrição da crise importa caracterizar muito bem a situação em que ocorreu (sono/alerta, repouso/exercício), o que estava a fazer, a sequência exata de acontecimentos e o estado após a crise. Na maioria dos casos será necessário recorrer a exames complementares, Electroencefalograma (EEG) e Ressonância magnética cerebral, para ajudar a definir o tipo de Epilepsia e orientar a terapêutica farmacológica ou eventualmente cirúrgica.
Qual é o tratamento?
O tratamento é geralmente farmacológico. A terapêutica deve ser mantida durante, pelo menos, dois anos com reavaliações periódicas. Em determinadas situações, sobretudo nalgumas crianças, será possível suspender a medicação, mas sempre sob aconselhamento médico. No entanto, na maioria dos casos deverá manter-se ao longo da vida. É importante salientar que nem todas as crises epilépticas são controláveis, cerca de um terço dos doentes poderão necessitar de várias tentativas de ajuste da medicação, alguns de uma dieta especial (dieta cetogénica) e nalguns doentes poderá estar indicado um tratamento cirúrgico. Este consiste em retirar uma parte do tecido cerebral, a zona onde se iniciam as crises, sem retirar tecido que possa prejudicar o normal funcionamento do cérebro, mas tem indicações específicas.
O que fazer perante uma crise epiléptica?
A principal atitude é:
- manter a calma;
- não tentar restringir os movimentos, desapertar o colarinho;
- evitar traumatismo da cabeça, colocando a mão, ou um casaco dobrado, debaixo da mesma;
- recomenda-se ainda desviar móveis ou objetos que possam magoar;
- Colocar a pessoa na posição lateral de segurança quando os abalos (‘convulsões’) pararem.
O que não deve fazer
- nunca colocar nada na boca, nem puxar a língua, não existe o perigo se enrolar ou obstruir a passagem de ar, como comummente se pensa;
- nunca dar água;
- deve manter-se junto à pessoa e esperar que a crise passe.
Quando levar ao Hospital
- Dirija-se ao hospital apenas se tiver uma primeira crise, se esta durar mais de 5 minutos, se a pessoa não recuperar a consciência ou se houver algum traumatismo ou ferimento decorrente da crise;
- Se o doente sofrer uma crise epiléptica como tantas outras, não é necessário chamar a ambulância ou ir ao hospital.