O mesentério: novo órgão? Que implicações?
O mesentério, já conhecido há centenas de anos, foi inclusive descrito por Leonardo da Vinci como uma estrutura contínua e assim perdurou até 1885 quando os achados de Sir Frederick Treves o apresentaram como fragmentado e dividido entre o intestino delgado, o cólon transverso e o cólon sigmóide.
Esta descrição corroborava Henry Gray que na 1ª edição de Gray,s Anatomy – livro de referência no estudo de Anatomia para os estudantes de todo o mundo - referia a existência de vários mesentérios.
Qual a função do mesentério?
O mesentério é uma membrana que fixa o intestino à parede abdominal. Se não existisse o intestino ligar-se-ia directamente à parede abdominal o que certamente não permitiria os seus movimentos de contracção e relaxamento. Mantém o intestino com a conformação que conhecemos e impede que, ao levantarmo-nos ou a caminhar, ele colapse na pélvis e não funcione.
Para além disso existem vasos sanguíneos, linfáticos e nervos que através do mesentério alcançam o intestino. É conhecido que tem importância nos sistemas vascular, endócrino e imunológico embora seja necessária mais investigação para um conhecimento detalhado dessas funções.
O órgão “mesentério”
As investigações de J. Calvin Coffey, Cirurgião do Hospital de Limerick na Irlanda permitiram reclassificar o mesentério como uma estrutura contínua (através de cirurgias várias e estudos post mortem), condição necessária para a sua classificação como órgão, estabelecendo a sua anatomia e demonstrando que essa continuidade é real, embora não observável de todas as formas que o mesentério é exposto.
Essa investigação foi recentemente publicada ( The Lancet, Gastroenterology and Hepatology, Vol 1, nº 3, p238-247, Nov. 2016) tendo já sido solicitado que a próxima edição de Gray,s Anatomy se refira ao mesentério como um órgão, o que parece ter sido já aceite.
O mesentério tem então uma forma espiral no abdómen e está disposto ao longo da coluna entre a porção superior do abdómen e a pélvis. Entre estes dois limites adopta uma conformação em leque, tipo “leque Chinês”, englobando todo o comprimento do intestino desde o duodeno até ao recto.
Esta clarificação e simplificação na sua estrutura e anatomia permitirão uma melhor definição das suas funções, do que acontece quando funciona incorrectamente e das doenças que o afectam.
Coffey espera que uma melhor compreensão do mesentério possa levar a formas menos invasivas para o avaliar já que presentemente apenas é acessível por via cirúrgica ou radiológica.
Será porventura a base para o desenvolvimento de técnicas endoscópicas menos invasivas para o seu estudo e o início de uma nova especialidade ou sub-especialidade médica que estude e trate as suas doenças de forma mais rápida e menos invasiva.