O acesso à saúde sexual e reprodutiva é um direito fundamental

Em Portugal, a acessibilidade às consultas de Planeamento Familiar, aos métodos contracetivos, à contraceção de emergência, à interrupção voluntária de gravidez, à vigilância da gravidez e ao parto em condições de segurança, está devidamente fundamentada na legislação e no quadro normativo que rege o Serviço Nacional de Saúde.
Todo este progresso, que nos colocada entre os países mais desenvolvidos da Europa foi trabalho de muitos e ao longo de muitos anos… não se pode perder o património adquirido, muito menos recuar, e ainda…devemos melhorar.
Onde chegámos:
· O acesso a cuidados de saúde reprodutiva é universal, em condições de igualdade para todos os residentes em Portugal (portugueses e estrangeiros, legais e ilegais, homens e mulheres)1;
· O aborto passou a ser reconhecido como tema da Saúde Sexual e Reprodutiva1;
· 94% das mulheres portuguesas com vida sexual ativa usam contraceção; A maioria das utilizadoras de contraceção usa um método moderno; progressivamente, tem-se verificado um aumento do uso de métodos mais efetivos; O preservativo é utilizado como contracetivo mas em 80% dos utilizadores como contracetivo e preventivo das doenças sexualmente transmissíveis;2
· O número de interrupções de gravidez por opção da mulher tem diminuído progressivamente (no último ano 1,9% e entre 2008 e 2015, 10%) sendo inferior à média Europeia3;
· A despenalização do aborto é sinonimo de aborto seguro: quase não existiu mortalidade materna relacionada com o aborto4.
O que nos preocupa:
· O acesso e a prestação de cuidados de saúde reprodutivos tem muitas assimetrias no País, não sendo assegurados em condições igualitárias a todos os cidadãos;
· A informação sobre as condições assistências que o Estado oferece não é universalmente conhecida;
· 40% das mulheres com vida sexual ativa e a usar contraceção, não frequentou, no último ano, consulta de Planeamento Familiar (90% adolescentes; 50% entre os 20 e 29 anos)2;
· O uso de contraceção nos extremos da vida reprodutiva é menor, não usando contraceção 6% das adolescentes e 8% das mulheres com mais de 40 anos2;
· A Interrupção de gravidez em mulheres de nacionalidade estrangeira voltou a aumentar em 2015 (16% em 2013, 17,2% em 2014 e 18,5% em 2015)3;
· Em 2009 a educação sexual foi considerada obrigatória no plano curricular dos jovens. Em 2015 apenas 67,4% refere ter acesso a educação sexual/informação sobre contraceção e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis3;
A SPDC e a APF reafirmam que esta é, de facto, uma questão de Saúde pública fundamental: técnica e também política naquilo que de mais nobre existe no sentido profundo da Política - a promoção do bem-estar e segurança cidadãos, através de uma justa oferta e distribuição dos recursos em Saúde necessários e disponíveis. O acesso à saúde sexual e reprodutiva é um direito fundamental do indivíduo e uma garantia para a autonomia e desenvolvimento social.
Notas:
1Diário da República, 1.ª série — N.º 99 — 21 de maio de 2010
2Estudo das Práticas contracetivas, 2015. Sociedade Portuguesa da Contraceção, Sociedade Portuguesa de Ginecologia
3Relatório dos registos das interrupções da gravidez dados de 2015, Direção de Serviços de Prevenção da Doença e Promoção da Saúde, Divisão de Saúde Sexual Reprodutiva Infantil e Juvenil. DGS.
4Relatório de análise das complicações relacionadas com a interrupção da gravidez 2013 - 2014 Direção de Serviços de Prevenção da Doença e Promoção da Saúde, Divisão de Saúde Sexual Reprodutiva Infantil e Juvenil. DGS.