Opção de tratamento

Nova pílula contracetiva no combate à acne

Atualizado: 
16/05/2019 - 18:06
Afetando ambos os sexos, calcula-se que a acne seja a doença de pele mais frequente, atingindo praticamente 90% da população. Apesar de na sua forma mais comum acometer jovens entre os 12 e os 17 anos, e de evoluir favoravelmente de forma espontânea, estima-se que afete cerca de 20% das pessoas com mais de 25 anos. Uma nova pílula à base de dienogest e etinilestradiol vem agora trazer uma novidade no tratamento da acne, alargando o leque de opções de tratamento disponíveis com bons resultados.
pilula acne

A acne vulgar é, provavelmente, a doença de pele mais comum, definindo-se como uma doença multifactorial, que envolve o pêlo e a sua glândula sebácea adjacente, e que resulta do excesso de produção de gordura e da acumulação de células cutâneas mortas. Fatores como o stress, alimentação ou alterações hormonais são apontados como as causas mais frequentes.

Apesar de comuns na adolescência, nas raparigas e mulheres 2 a 7 dias antes do período menstrual, estas alterações hormonais podem surgir em qualquer idade e estar associadas a problemas de saúde mais complexos.

“A acne afeta mais frequentemente adolescentes e adultos jovens entre os 12 e os 25 anos de idade (mulheres e homens). Contudo, pode surgir na infância – 1 a 7 anos -, o que deve alertar a algum problema subjacente. Também a mulher adulta pode ter acne (depois dos 25 anos, mantendo-se até aos 40 ou mais anos), na maioria dos casos persistindo desde a adolescência ou então surgindo de novo nessa fase da vida”, começa por explicar Marta Almeida Pereira, dermatologista do Hospital Pedro Hispano.

Os androgénos são aqui apontados como os principais responsáveis pelo aparecimento deste problema de pele. Estas hormonas “atuam, aumentando a produção de sebo na pele e contribuindo para a condição de «hiperseborreia” que, associada a outros fatores, como a proliferação de bactérias, inflamação ou alteraçoes no processo de queratinização da pele, conduzem ao aparecimento das iniciais lesões da pele: os comedões - vulgarmente designados por “pontos negros” ou “pontos brancos”.

“Quanto maior a inflamação que se observe, poderemos ter pápulas, pústulas, nódulos ou quistos como manifestações de acne cada vez mais grave”, explica a especialista.

O diagnóstico de um distúrbio hormonal associado à acne é feito em função da apresentação clínica da doença. “Na presença de acne, excesso de pêlo corporal (hirsutismo), queda de cabelo (alopécia androgenética) poderá ser levantada a suspeita de alterações hormonais e realizadas análises sanguíneas específicas”, descreve.

Contudo, de acordo com esta dermatologista, apenas um terço das mulheres com achados clínicos sofre de uma verdadeira alteração hormonal, habitualmente associada à Sindrome do ovário poliquístico. “As restantes causas, menos frequentes, relacionam-se com alterações adrenais ou hipofisárias”, acrescenta Marta Almeida Pereira.

Quanto ao seu tratamento, este baseia-se na redução na produção de gordura, na aceleração da renovação das células da pele, no controlo da infeção e na redução da infeção.

Loções, antibióticos, tratamentos laser ou fototerapia e contracetivos orais são alguns do tratamentos  que devem ser prescritos, caso a caso,  pelo médico dermatologista.

 
Na acne ligeira a moderada a pílula é recomendada em associação a tratamentos tópicos, enquanto que na acne severa é um tratamento adjuvante de tratamentos sistémicos mais agressivos

“As pílulas recomendadas no tratamento da acne são pílulas anti-androgénicas”, explica a especialista acrescentando que estas são apenas recomendadas após a primeira menstruação e sempre que os benefícios ultrapassem o riscos, uma vez que se apresentam como “um aliado em todos os tratamentos de acne na mulher, impedindo a ligação dos androgénos circulçantes à glândula sebácea da pele, melhorando a seborreia (oleosidade)”.

No entanto, fica a advertência: “as pílulas não podem ser tomadas por qualquer mulher nem em qualquer idade. Fatores como a hipertensão, o excesso de peso, o tabagismo, antecedentes de tromboembolismo ou de doenças pró-trombóticas podem limitar ou mesmo contra-indicar a prescrição da pílula. Essa avaliação deverá ser sempre feita pelo médico”, reforça Marta Almeida Pereira.

De acordo com a especialista do Hospital Pedro Hispano, em Portugal, as pílulas recomendadas para o tratamento da acne  “são as pílulas orais combinadas de etinilestradiol + acetato de ciproterona”. No entanto, recentemente surgiu uma nova opção de tratamento de segunda linha contra a acne moderada em mulheres: uma pílula combinada à base de dienogest e etinilestradiol. “Este ano, a Agência Europeia do Medicamento (EMA) anunciou esta indicação para a pílula que contém dienogest 2 mg e etinilestradiol 0,03 mg alargando o leque de opções de tratamentos disponíveis”, revela a especialista que adianta que esta foi uma das novidades discutidas na Reunião da Sociedade Portuguesa de Contraceção com um momento de debate entre vários especialistas nacionais.

A melhoria da acne com este novo tratamento demora “pelo menos três meses, com melhoria evidente ao final de seis meses e completa ao final de 12 meses”.

Aconselhada para o tratamento da acne moderada, após o insucesso de terapêuticas tópicas ou do tratamento com um antibiótico oral, a nova pílula deve, no entanto, ser utilizada apenas por mulheres elegíveis para o efeito.

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Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
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