Nova cirurgia ao cancro da próstata reduz o risco de incontinência
O medo dos efeitos secundários, nomeadamente da incontinência, "pode ser tão forte nos doentes com cancro da próstata como a própria doença". Quem o diz é Aldo Bocciardi, chefe da Unidade de urologia do Hospital de Niguarda, em Milão. O cirurgião italiano criou há seis anos uma nova técnica de prostatectomia radical assistida por robô, já aplicada em 1100 doentes, que reduz drasticamente os efeitos colaterais. Ontem, pela segunda vez desde junho, aplicou-a em Lisboa, na Fundação Champalimaud, escreve o Diário de Notícias.
Tradicionalmente associado a uma população mais envelhecida, acima dos 65 anos, o tumor maligno da próstata - o cancro com maior incidência e o quarto com maior taxa de mortalidade entre os homens portugueses, com cerca de 5000 novos casos e 1880 mortes por ano - tem vindo a manifestar-se mais cedo na vida dos doentes. O que significa outro tipo de desafios. "Operamos pacientes com 50 a 55 anos. E a incontinência é um grande problema nessa idade, porque é um conflito com a vida, as relações e o emprego", lembra o italiano. "O cancro e a incontinência são duas coisas assustadoras, não mais uma do que a outra".
Esse receio , confirma, acaba por levar muitos doentes a adiarem o tratamento: "Os paciente que esperam para tomar uma decisão, seja de fazer a cirurgia ou um tratamento, perdem esse tempo porque têm medo de ficar incontinentes".
Muitos tumores da próstata têm uma evolução lenta, que permite um acompanhamento regular sem recurso - pelo menos imediato - à cirurgia. mas nas formas mais invasivas da doença, adiar é sempre má opção. "É um erro. Até porque quanto mais esperamos mais difícil é de reduzir as consequências da operação.
O método desenvolvido pelo italiano, diz Jorge Fonseca, urologista e diretor da Unidade da Próstata da Fundação Champalimaud, pode ser a chave para acabar com essa indecisão entre os doentes.
" A abordagem base para a cirurgia radical é uma abordagem que causa a incontinência entre 5% a 10%. A técnica desenvolvida pelo professor Boccardi é completamente diferente", explica. "Ele aborda a próstata a partir de trás. E a vantagem é que reduz a incontinência urinária a níveis residuais, abaixo dos 5%". Mais concretamente, explica Bocciardi, "a 2% entre todas as cirurgias, sendo que entre os pacientes menores de 75 anos "é de 100%" a percentagem dos casos em este efeito.
Generalização ainda distante
A expetativa, nomeadamente do cirurgião italiano, é que este método venha progressivamente a ganhar terreno em relação às outras formas de cirurgia radical da próstata. Mas essa é uma realidade ainda distante, nomeadamente no caso de Portugal, onde só existem ainda três robôs utilizados no procedimento e faltam cirurgiões com a formação necessária.
"Esta técnica só pode ser feita com um robô, porque não reproduz os passos da cirurgia aberta", explica Jorge Fonseca. "E também é mais difícil de aprender, porque estamos habituados à abordagem aberta. Seria necessária criar uma nova escola de laparoscopia robótica". Caso uma ou várias instituições decidam fazê-lo em Portugal, Bocciardi não se importar de ajudar: "A ideia de fazer uma escola de cirurgia robótica é muito interessante. No futuro poderíamos pensar nisso, há muitas coisas que poderíamos fazer em conjunto".