Neoplasias de linfocitos B: investigação traz novas possibilidades de tratamento
Os linfócitos são uma das 5 variedades de glóbulos brancos que circulam no sangue e que se encontram igualmente na medula óssea e nos gânglios linfáticos.
Há 3 tipos principais de linfócitos: B, T e NK. Todos eles fazem parte do sistema imunitário do nosso organismo e, como tal, desempenham um papel importante nos mecanismos de defesa do organismo.
As neoplasias de linfócitos B resultam da transformação maligna dessas células e classificam-se em leucemias e linfomas de células B.
As leucemias por linfócitos B podem surgir de uma forma aguda com um quadro clínico exuberante e necessitando da rápida instituição de um tratamento de quimioterapia intensiva.
Por outro lado, as leucemias crónicas por linfócitos B, das quais a mais frequente é a leucemia linfática crónica, têm uma apresentação indolente. São muitas vezes detectadas em análises de rotina e podem não necessitar de tratamento durante muito tempo. Tal como tem acontecido em outras formas de leucemia, também nas leucemias linfáticas crónicas o tratamento tem conhecido evoluções significativas.
Se até há poucos anos a quimioterapia era a única alternativa para os doentes que necessitavam de tratamento atualmente não é sempre assim. Graças ao desenvolvimento de conhecimentos baseados na biologia molecular e genética, que permitiram conhecer as alterações moleculares associadas ao desenvolvimento da doença, foi possível desenvolver outras abordagens utilizando medicamentos inovadores. Assim, surgiram medicamentos como o idelalisib e o ibrutinib que bloqueiam as vias intracelulares associadas à proliferação descontrolada das células, e o venetoclax que restabelece os mecanismos que permitem ás células serem eliminadas quando cumprido o seu ciclo de vida.
São medicamentos muito potentes, com efeitos secundários relevantes, mas que permitem controlar a doença quando outras alternativas de tratamento, como a quimioterapia ou a quimio-imunoterapia falharam.
No sentido de promover a investigação neste grupo de doenças, a Associação Portuguesa contra a Leucemia (APCL) e a Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH), com o apoio da Gilead, disponibilizam uma bolsa para investigação, no valor de 15.000€. Destina-se esta bolsa a apoiar um projecto a ser desenvolvido em instituições nacionais, na área das doenças por linfócitos B maduros, com a duração de 1 ano e cujo regulamento pode ser consultado no site da APCL ou da SPH.
Em resumo, o tratamento destas doenças está a travessar uma fase em que situações anteriormente sem alternativa encontram hoje uma possibilidade de tratamento por vezes com resultados verdadeiramente extraordinários.
Prof. Manuel Abecasis - médico hematologista e Presidente da APCL