Relatores da ONU consideram

Negar aborto legal em caso de Zika pode ser tortura

Relatores do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas defenderam, de forma independente da organização, que negar o aborto legal a mulheres infetadas com o vírus Zika pode ser uma forma de tortura.

"O sofrimento mental que mulheres e meninas podem enfrentar quando desejam interromper uma gravidez, incluindo o contexto do Zika, mas não têm acesso legal ao serviço, pode ser grave e pode atingir o nível de tortura e/ou tratamento cruel, desumano ou degradante", lê-se num parecer citado no diário brasileiro O Globo de hoje.

Para os relatores, a situação é mais crítica em mulheres "particularmente vulneráveis, em função de sua idade, ?status' de deficiência, ou as circunstâncias de sua gravidez".

Os relatores explicaram, com base na jurisprudência internacional, que a tortura não acontece apenas para obter uma confissão ou punir alguém, mas que a discriminação também é um fator motivador e pode estar baseado em género.

A manifestação foi incluída num parecer enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil e deverá integrar a ação apresentada pela Associação Nacional de Defensores Públicos, que pede o direito de aborto para mulheres infetadas com o vírus, segundo o jornal.

O documento dos relatores da Organização das Nações Unidas (ONU) é o conteúdo principal do pedido do Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Género (ANIS), que quer ingressar no processo para apoiar o STF, de acordo com O Globo.

"Esse parecer é extremamente importante ao apontar que, quando a agressão ocorre no cenário de discriminação a um grupo, género ou raça específica, por exemplo, pode ser considerada tortura", disse Sinara Gumieri, pesquisadora e advogada do ANIS, citada pelo jornal.

Em fevereiro, a ONU defendeu o direito à interrupção voluntária da gravidez em caso de Zika.

No âmbito da ação que tramita no STF, o procurador-geral de Brasil, Rodrigo Janot, defendeu, em setembro, o direito das mulheres a abortar caso tenham contraído o vírus e perante a possibilidade de os bebés nascerem com microcefalia.

No mesmo mês, o Senado brasileiro manifestou-se contra, com o presidente do Senado, Renan Calheiros, a considerar, através da Advocacia da câmara alta do Congresso, que os fetos com microcefalia "são geralmente viáveis, embora possuam uma malformação que lhes causará transtornos na sua vida".

A Advocacia-Geral da União (AGU), que defende o Governo, também se mostrou contra o aborto nestas situações.

O Governo brasileiro declarou, em novembro, emergência sanitária nacional devido à rápida propagação do vírus no país, em particular pela relação direta e comprovada entre as mulheres que contraem o vírus nos primeiros meses de gravidez e os casos de microcefalia.

A microcefalia é uma malformação em que os bebés nascem com a cabeça menor do que o normal.

Fonte: 
LUSA
Nota: 
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