Mudanças na bactéria da pneumonia podem levar a novos medicamentos
“Analisando os genes desta bactéria, descobrimos um sistema que gera aleatoriamente seis formas diferentes da mesma bactéria e cada uma delas pode conferir-lhe diferentes vantagens em diferentes situações, o que é uma grande arma para a sua sobrevivência e uma maior dificuldade para o homem para travar as infecções por ela causadas”, disse a investigadora Ana Sousa Manso.
A cientista, que está a terminar o doutoramento em Biotecnologia Médica na Universidade de Siena, em Itália, em parceria com a Universidade de Leicester, no Reino Unido, explicou que se trata de “uma forma rápida de estas bactérias se adaptarem aos ambientes de stress em que se encontram”, e que podem ser o contacto com novas drogas, exposição a antibióticos ou a diferentes temperaturas.
Quando questionada acerca da utilização desta informação para obter novas formas de combater as doenças provocadas por estas bactérias, a cientista referiu que é necessário percorrer “um longo caminho ainda, porque isto é o início de uma investigação”, mas admitiu que “abre portas para um combate mais eficaz”, no futuro.
Para Ana Sousa Manso, é importante continuar a estudar as bactérias e olhar para estes micróbios de perspectivas diferentes para se encontrarem curas e vacinas alternativas àquelas que actualmente existem.
O trabalho, publicado na revista Nature Communications, foi desenvolvido por um grupo de investigadores da universidade britânica, em colaboração com especialistas internacionais, e estudou bactérias que se podem encontrar na zona interna do nariz, a nasofaringe, em 30% da população, na sua maioria crianças. Naquela zona, estas bactérias estão presentes de uma forma assintomática, não são prejudiciais para a saúde, “mas podem tornar-se invasivas, deslocar-se para outras partes do organismo e provocar doenças”, referiu Ana Sousa Manso.
A cientista explicou que “não se sabe o que provoca esta mudança”, que leva as bactérias a darem origem a “problemas simples”, como otites, sinusites ou conjuntivites, mas também a “doenças graves”, como a pneumonia e a meningite.
“Descobrimos na bactéria um sistema que casualmente muda e, em vez de estarmos a olhar para uma, é como se estivemos a olhar para seis bactérias diferentes, é um mesmo agente com seis máscaras diferentes, que podem mudar de uma para outra, a qualquer momento”, uma capacidade comum a outro tipo de bactérias, disse Ana Manso.
Até agora, os especialistas encaravam esta e outras bactérias como uma só, mas esta descoberta “muda a forma como, a partir de agora, a comunidade científica olha para estas e outras bactérias e, consequentemente, as estratégias para o desenvolvimento de novos fármacos que as combatam têm também de mudar”, referiu ainda a investigadora.