Tumor

Mieloma Múltiplo: cansaço e dor óssea intensa são os principais sintomas

Atualizado: 
08/04/2019 - 12:47
Embora raro, o mieloma múltiplo é o tipo mais comum de tumor das células plasmáticas, estimando-se que, em Portugal, todos os anos, surjam entre 500 a 600 novos casos desta doença. Frequentemente assintomática, o diagnóstico chega muitas vezes depois de detetadas anomalias em exames laboratoriais de rotina. No entanto, o cansaço extremo e a dor óssea intensa e persistente são os principais sinais suspeitos.

De causa desconhecida, o Mieloma Múltiplo tem origem nas células plasmáticas que se multiplicam de forma anómala na medula óssea, produzindo anticorpos que “em condições normais, nos deveriam proteger de infeções”.

Mais comum entre os 50 e os 70 anos, trata-se de uma doença que atinge ligeiramente mais os homens do que as mulheres e, não raras as vezes, é responsável pelo aparecimento de lesões ósseas.

Apesar de frequentemente assintomática, um dos sintomas mais comuns é o cansaço, relacionado com a presença de anemia. “A grande maioria dos doentes apresenta dores ósseas intensas e persistentes, às vezes com fraturas e muitas vezes com cansaço que não tem explicação óbvia”, começa por explicar Fernando Leal da Costa, especialista em Hematologia Clínica e Oncologia Médica, do IPO Lisboa.

Nos doentes assintomáticos, “o diagnóstico acontece em resultado de análises de rotina que apresentem anemia, insuficiência renal ligeira, cálcio aumentado ou velocidade de sedimentação muito elevada”. Depois de se descobrirem níveis elevados de anticorpos anormais, é realizado um exame da medula óssea que confirma a presença da doença.

De acordo com o especialista, a grande maioria destes doentes não precisa ser tratada. “No caso dos doentes com aumento isolado de anticorpos, as gamablobulinas, ou com mieloma que é indolente, sem nenhuma outra alteração, não há justificação para se iniciar tratamentos”, afirma esclarecendo que estes doentes devem apenas manter a sua condição vigiada.

Entre as principais complicações da doença estão as infeções. “Como é uma doença que envolve a produção anormal de anticorpos, o mais frequente é haver diminuição das defesas e infeções. Também pode haver anemia que os tratamentos podem, paradoxalmente, agravar”, explica o médico. Por outro lado, a patologia pode comprometer o funcionamento dos rins, na sequência da deposição das proteínas anormais que o mieloma produz.

O mieloma múltiplo não pode ser curado, no entanto, existem tratamentos que podem fazer regredir e estabilizar a sua evolução. E embora estejam disponíveis várias opções terapêuticas, como a radioterapia e o transplante de medula óssea, o mais frequente é usar quimioterapia.

“De uma forma geral e simples, digamos que os doentes abaixo dos 70 anos podem fazer quimioterapia complementada com uma intensificação que envolve autotransplantação medular, e os mais velhos com regimes de duração prolongada. Todavia, a tendência atual, com ganhos de sobrevivência, é a de manter o tratamento por vários anos”, explica Fernando Leal da Costa.

O tratamento global de um doente com mieloma múltiplo envolve equipas multidisciplinares, para além do hematologista/oncologista ou radio-oncologista. “Há lugar à intervenção de especialistas no tratamento da dor, psiquiatras e psicólogos, assistentes sociais, estomatologistas, radiologistas, neurocirurgiões, nefrologistas, ortopedistas, só para indicar alguns saberes que podem ser chamados a intervir”, refere o especialista do IPO.

“Claro está, tudo isto sob a indispensável intervenção do enfermeiro oncológico que é um elemento indispensável no acompanhamento de qualquer doente com cancro”, acrescenta referindo ainda a importância do médico de medicina geral e familiar, “quem quase sempre suspeita do diagnóstico”, nestes casos. “Estes especialistas nunca devem ser afastados do acompanhamento regular dos doentes com mieloma e das suas famílias”, afirma.

O desenvolvimento de medicamentos que podem inibir os mecanismos de resistência do cancro ou induzir respostas imunológicas normais contra o das células do mieloma tem sido o principal avanço no tratamento desta doença, nos últimos. No entanto, não é o único que importa destacar. “Os desenvolvimentos mais interessantes estão na esfera dos medicamentos que afetam a genética do plasmócito doente e em anticorpos que podem destruir as células afetadas, ao mesmo tempo que poupam as células normais”, refere acrescentando que, também, no que diz respeito ao controlo da dor e na prevenção e tratamento das infeções “têm havido desenvolvimentos notáveis”. Por isso, para todos os doentes, o especialista deixa uma mensagem de esperança. “… De que a cura está próxima e muita certeza de que é possível viver bem, e durante muito tempo, com esta doença, pesa embora a sua variabilidade enorme”.

Apesar de raro, o mieloma existe e pode ser tratado!

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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