Metade do apoio para desenvolvimento científico deve vir das empresas

Embora note que a proximidade entre as universidades e a indústria tenha aumentado ao longo do tempo, o docente admitiu que "o investimento financeiro do tecido empresarial no desenvolvimento científico está muito aquém daquilo que se pode desejar".
Victor Freitas falava a propósito do posicionamento da Universidade do Porto (UP) no ranking de Shangai, que ficou em 4.º lugar a nível europeu e em 11.º a nível mundial, na área da ‘Food Sciences and Technology' (Ciência Alimentar e Tecnológica).
Estes resultados, divulgados em outubro, são o "reflexo do trabalho desenvolvido pela UP nesta área nos últimos anos em que, apesar do parco financiamento por parte dos organismos públicos, devido às fortes restrições orçamentais e das indústrias, ficou classificada ao nível dos centros internacionais de referência neste domínio, como é o caso das universidades de Wageningen [Holanda], de Ghent [Bélgica] e de Copenhaga [Dinamarca]", indicou.
"É um resultado extraordinário e em que poucos acreditariam", revelou o professor.
Segundo Victor Freitas, que lidera e colabora em projetos nesta área, a colocação neste ranking resulta do trabalho desenvolvido pelos vários grupos de investigação da UP em projetos relacionados sobretudo com a valorização de produtos e subprodutos alimentares, dentro de setores como a vinha e o vinho, a oliveira e a azeitona, as frutas, os legumes.
Essas investigações e as suas conclusões "estimulam um melhoramento da cadeia de valores destes produtos, tendo em vista uma produção mais sustentável, e contribuem para o desenvolvimento económico regional e nacional", afirmou.
Muitos desses projetos, continuou, levaram igualmente a um maior conhecimento dos componentes dos alimentos e a um melhoramento das suas propriedades nutricionais, de forma a tornar os alimentos saudáveis mais apetecíveis para o consumo humano.
Para além disso, a transferência do conhecimento para outras áreas tem permitido a utilização de subprodutos alimentares no desenvolvimento de novos produtos na área cosmética e farmacêutica, acrescentou.
De acordo com o professor, a investigação nesta área tem também um impacto direto na vida das pessoas, atuando ao nível da segurança alimentar e da nutrição, bem como nas questões laborais.
"Vivemos numa zona do país [Norte] em que existem muitas explorações agrícolas e empresas de transformação de pequenas dimensões - familiares - e esta aposta na investigação e no desenvolvimento tecnológico em setores que podem ser estratégicos, ajudam na sustentabilidade de algumas destas empresas, apoiando na inovação, e propiciam a criação de outras, por jovens qualificados", referiu.
Para Victor Freitas, a visibilidade decorrente deste ranking pode ajudar a UP a atrair estudantes e investimento nacional e estrangeiro e promover as colaborações internacionais com instituições de excelência que reconhecem na UP competências para participar em projetos europeus conjuntos.
"Apesar do elevado crescimento da produção científica em Portugal verificado nos últimos dez anos, o crescimento tecnológico não acompanha essa produção, apresentando ainda um elevado potencial de crescimento", indicou.
Os critérios para o ranking de Shangai, que o professor considera como o "mais conceituados e credíveis", passam pelo número de publicações científicas criadas pelas universidades, pela qualidade dos artigos científicos publicados nas revistas de impacto e pelas colaborações internacionais.
"Já sabíamos que a UP tem muitas competências nesta área e que desempenha um papel importante mas ainda não tínhamos ainda dados objetivos", disse ainda.
No ranking de Shangai, também na área da Ciência Alimentar e Tecnologia, ficou colocado o Instituto Politécnico de Bragança, no 50.º lugar.
A UP distingue-se ainda na área da Engenharia Química, ficando em 29.º lugar.
Já a Universidade de Lisboa ficou em 3.º lugar na área da Engenharia Oceânica e Marítima, em 8.º na área dos Sensores Remotos, em 18.º na área dos Recursos da Água e em 43.º na área da Engenharia Civil.