Mais de metade dos doentes abandona tratamento
A Bexiga Hiperativa, uma condição que se caracteriza pela presença de urgência urinária, geralmente acompanhada por aumento de frequência das micções, resulta da contração ou aperto involuntário e repentino do músculo da parede da bexiga, mesmo quando esta contém um volume reduzido de urina.
Não se encontrando sempre uma causa para as contrações anormais da bexiga há, no entanto, alguns fatores que podem contribuir ou agravar os sintomas. “O consumo de bebidas gaseificadas ou com cafeína, obstipação, musculatura pélvica fraca, excesso de peso ou obesidade, entre outros”, começa por enumerar Vera Pires da Silva, especialista em Medicina Geral e Familiar, reforçando a importância do diagnóstico precoce.
“A Bexiga Hiperativa afeta tanto mulheres como homens, ou seja, não é depentente do sexo dos doentes”, refere acrescentando que os dados apontam para cerca de um milhão e 700 mil portugueses, “com idade acima dos 40 anos”, que sofrem desta condição.
“A Bexiga Hiperativa não é o mesmo que a incontinência urinária”, ressalva, no entanto, a especialista explicando que a incontinência urinária pode ser um dos seus sintomas, mas que nem todos os doentes a apresentam. “Alguns doentes têm queixas de Bexiga Hiperativa com incontinência urinária, enquanto outros não”, afirma.
Vontade súbita e intensa de urinar e difícil de adiar, necessidade de urinar com mais frequência, interrupção do sono várias vezes durante a noite devido à necessidade de urinar e/ou perda involuntária de urina associada à urgência são os principais sintomas.
Deste modo, embora fácil de diagnosticar, “esta síndrome pode ter um grande impacto na qualidade de vida dos doentes, porque estes podem limitar as suas atividades diárias e escolhas profissionais, devido ao receio dos sintomas e necessidade de ter uma casa de banho por perto”.
O seu tratamento pode ter diferentes abordagens. “Pode passar por uma abordagem conservadora que não implica medicação ou cirurgia, como pode requerer uma terapêutica farmacológica e, em casos mais graves, por alguma intervenção invasiva”, explica Vera Pires da Silva acrescentando que, embora a Bexiga Hiperativa não tenha cura, os seus sintomas podem ser atenuados ou vir a desaparecer com o tratamento adequado.
Para garantir que todos os casos são diagnosticados e que todos os doentes são acompanhados, recebendo o tratamento indicado para sua recuperação, foi criado o 1º Plano de Cuidados Integrados na Bexiga Hiperativa que conta com o apoio científico da Associação Portuguesa de Neurologia e Uroginecologia (APNUG), da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) e da Associação Portuguesa de Urologia (APU).
“O Plano de Cuidados Integrados na Bexiga Hiperativa consiste num documento de consenso entre especialidades que têm um papel na abordagem destes doentes e no qual pode ser encontrada toda a informação desde o diagnóstico até ao tratamento, passando pela articulação entre cuidados primários e secundários”, explica a médica.
“Este documento inclui informação atualizada sobre como proceder em doentes com queixas de bexiga hiperativa, quais as opções terapêuticas que podem ser oferecidas aos doentes, durante quanto tempo estas devem ser mantidas, quando ponderar alterar uma opção terapêutica caso esta não tenha tido êxito pretendido ou quais as alternativas existentes e em que intervalos deve ser feito o seguimento”, acrescenta.
Medicina Geral e Familiar, Urologia, Ginecologia e Medicina Física e Reabilitação são as especialidades envolvidas e que assumem este compromisso com vista a minimizar impacto desta síndrome na vida dos doentes, evitando o abondono precoce do seu tratamento.