Mais de 90% dos casos de insuficiência cardíaca têm doenças associadas
Os doentes realizaram, em média, em 2014, cinco consultas com o médico de família e a quase totalidade consumiu medicamentos relacionados com a sua doença cardiovascular durante esse ano, adiantam as conclusões do estudo divulgado no Dia Europeu da Insuficiência Cardíaca, assinalado hoje.
Em contrapartida, cerca de um terço (35%) não realizou quaisquer exames médicos relacionados com a doença cardiovascular, no contexto do seu seguimento nos cuidados de saúde primários.
Realizado pelo Centro de Medicina Baseada na Evidência da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e pelo Centro de Estudos Aplicados da Católica Lisbon School of Business and Economics, o estudo envolveu 1,9 milhões de utentes que teve pelo menos uma consulta com o médico de família na Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo durante 2014.
Deste universo de doentes, 25.000 (1,4%) estavam registados com o diagnóstico de insuficiência cardíaca, um valor que é cerca de 30% do esperado de acordo com a prevalência da doença em Portugal.
“A diferença pode ser explicada pelo facto do diagnóstico de insuficiência cardíaca não ter sido registado ou realizado (subdiagnóstico) em cuidados de saúde primários, ou ainda, pelo facto de o doente não ter tido nenhuma consulta com o seu médico de família durante 2014”, explica a investigação.
Analisando o perfil destes doentes, o estudo aponta que tinham uma idade média de 77 anos e mais de metade (58%) eram mulheres.
Mais de 90% tinha pelo menos uma outra doença relevante associada, sendo as mais frequentes a pressão arterial elevada (81%), diabetes (32%) e doença isquémica do coração (27%).
Em média, o custo de seguimento destes doentes nos cuidados de saúde primários foi estimado em 552 euros por ano, sendo a medicação o principal componente deste custo.
“O consumo de recursos foi mais elevado no grupo etário dos 70 aos 79 anos”, referem as conclusões do estudo.
A insuficiência cardíaca é uma situação clínica debilitante e potencialmente fatal, em que o coração não consegue bombear sangue suficiente para todo o corpo.
Na maioria dos casos, ocorre porque o músculo cardíaco responsável pela ação de bombear o sangue enfraquece ao longo do tempo ou torna-se demasiado rígido.
Os sintomas podem ser muito debilitantes: dificuldade em respirar, pernas inchadas devido a acumulação de líquidos, fadiga intensa, tosse ou pieira, náuseas e aumento de peso devido à acumulação de líquidos.
“Contudo, tendo com conta as comorbilidades associadas, estes sinais e sintomas podem ser facilmente atribuídos a outra doença, levando a um subdiagnóstico da insuficiência cardíaca”, adianta o estudo que foi apresentado no Congresso Europeu de Insuficiência Cardíaca da Sociedade Europeia de Cardiologia, que decorreu esta semana, em Paris, e divulgado hoje em Portugal.