Mais de 30% de pessoas desnutridas nos hospitais
A iniciativa “Agir para Nutrir” arrancou hoje numa farmácia em Lisboa e será alargada às cerca de 120 farmácias aderentes ao projecto, de norte a sul do país.
Diana Mendes, dietista no Hospital de Santa Marta explicou que “o objectivo é sensibilizar a população para a problemática da desnutrição (situação de carência prolongada de um ou mais nutrientes), vigiar o seu estado nutricional, que deve ser monitorizado, e prevenir desnutrição”.
Na farmácia, qualquer pessoa com mais de 18 anos pode fazer a identificação do seu “perfil nutricional” de forma gratuita, bastando para isso responder a um questionário, validado por uma sociedade médica europeia, que avalia factores como a massa corporal, o apetite ou perdas de peso recentes. “A farmácia é encarada como um espaço na comunidade perto dos utentes e da população e o farmacêutico surge como o profissional em contacto com a população e que está apto para identificar um eventual risco nutricional”, disse, acrescentando: “primeiro vamos formar os farmacêuticos, para depois passar a implementar a ferramenta”.
Caso o doente apresente risco, é encaminhado para o médico assistente para procurar tratamento. Se não houver risco, o utente é aconselhado a voltar a fazer a monitorização numa próxima ida à farmácia. Além desta avaliação, o farmacêutico pode ainda dar conselhos genéricos ou recomendar algum tipo de suplementação.
Esta ideia surgiu da necessidade de actuar antecipadamente junto da população, para evitar que as situações de desnutrição sejam identificadas ou diagnosticadas tardiamente, quando a pessoa é admitida num hospital ou numa instituição geriátrica, como acontece actualmente.
Diana Mendes sublinha que, apesar de não estarem a aumentar os casos de desnutrição, os números são preocupantes: Cinco por cento da população europeia apresenta desnutrição e 30% a 50% dos utentes apresenta desnutrição no momento da admissão hospitalar.
Em Portugal, em seis hospitais públicos, numa amostra de 1.144 doentes, verificou-se que um em cada três doentes apresentava desnutrição no momento de admissão hospitalar.
É também comum que o diagnóstico de desnutrição seja feito quando já se apresenta num estado muito avançado, sendo mais difícil o tratamento e a sua reversão.
“Começa a haver a necessidade de agir antes e não só quando se recorre ao hospital. É necessário agir antes e fazer triagem com aconselhamento, para evitar que comece só quando a pessoa chega ao hospital”, sublinhou.
A desnutrição surge normalmente entre a população idosa ou associada a doenças crónicas, oncológicas ou degenerativas, como Parkinson, Alzheimer ou doença do neurónio motor.