Maioria dos homens que se prostitui na região norte são homossexuais
Em entrevista, Nuno Teixeira, coordenador do projeto ECOS - Educação, Conhecimento, Orientação e Saúde, revela que a maioria dos trabalhadores do sexo masculino na região Norte é identificada como homossexual, tem nacionalidade portuguesa, usa o Serviço Nacional de Saúde (SNS), apresentam-se como género masculino, desempregado e a residir sozinho, principalmente no Grande Porto, mas também em Braga, Vila do Conde, Felgueiras, Guimarães e Póvoa de Varzim.
Os dados são resultantes de um estudo denominado Projeto ECOS - Educação, Conhecimento, Orientação e Saúde – e que apenas caracteriza uma amostra de 57 indivíduos trabalhadores do sexo na região Norte de Portugal que foram inquiridos, explica o coordenador do projeto.
“Tratou-se de uma amostra de conveniência recolhida através do método de ‘snowball’, onde participaram 57 indivíduos, aos quais foi atribuído o sexo masculino na altura do nascimento e todos eles a exercerem trabalho sexual na zona norte do país no momento em que foi administrado o questionário”, descreve o coordenador do projeto ECOS.
O estudo de caracterização de atores sociais, práticas e contextos envolvidos no trabalho sexual masculino teve como objetivo último “concorrer para a desocultação dos determinantes da infeção VIH/SIDA neste grupo específico”, explica Nuno Teixeira.
Os participantes têm idades compreendidas entre os 19 e os 54 anos e, deste total, 28 indivíduos nasceram em Portugal (49.1%) e 29 possuem outra nacionalidade (50.9%).
Quase todos os inquiridos (98.2%) afirmaram ter realizado o teste Vírus de Imunodeficiência Humana (VIH) e 21,1% são portadores do VIH.
No “sumário executivo” que é apresentado na Universidade do Porto, 30 indivíduos pensam em si próprios enquanto homens (52.6%), 14 pensam em si enquanto mulheres (24.6%), dez consideram-se transgéneros (17.5%), dois indivíduos autodenominam-se mulher transgender (3.5%) e um indivíduo não sabe/não quer definir-se (1.8%).
No que diz respeito à orientação sexual, 26 indivíduos identificam-se como homossexuais (48.1%), 13 como bissexuais (24.1%), dez como heterossexuais (18.5%) e cinco consideram outra orientação sexual (9.3%).
“Quase 68% dos inquiridos estão desempregados e 58,5% reportam não ter qualquer outra fonte de rendimento para além do trabalho sexual, tendo 45,6% revelado morar sozinhos e 71,4% utilizam o SNS.
Nos últimos seis meses, a maioria dos participantes (73.7%) afirma ter usado preservativo em todos os atos sexuais profissionais e 21.1% afirma ter usado preservativo em quase todos os atos sexuais profissionais. Sobre o uso do preservativo em contexto pessoal nos últimos seis meses, a sua prevalência desce para 47.4%.
O estudo revela que os participantes do questionário associam fortemente o uso do preservativo à prevenção da transmissão do VIH.
A maioria dos participantes (74.5%) indicou não utilizar drogas e discorda quanto à possibilidade de não serem capazes de controlar o seu comportamento sexual.
Os dados revelam que 50.9% dos inquiridos admitiram ter tomado hormonas para obter transformações corporais.
“Os participantes em questão concordam que não se deve utilizar hormonas ou aplicar silicone sem a devida prescrição técnica e sustentam não confiar nas hormonas indicadas por colegas e/ou amigos.
O benefício obtido com o trabalho sexual que maior relevância tem para as pessoas inquiridas é a possibilidade de conhecer clientes importantes. Os ganhos financeiros, o aumento da autoestima são também muito valorizados, assim como o facto do exercício daquela atividade lhes permitir conhecer lugares, como hotéis, pensões e bares.
O estudo é hoje apresentado publicamente, a partir das 11:00, na Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto, no âmbito de um seminário intitulado “Corpos, Sexo e Territórios no Trabalho Sexual Masculino".