Lombalgia é a principal causa de dor crónica
Cerca de 30% da população adulta portuguesa sofre de dor crónica, de intensidade moderada ou forte em quase metade dos casos.
Apesar da sua intensidade não ser simples de avaliar, uma vez que é sempre subjetiva, existem, no entanto, escalas para medir a dor, possibilitando o seu diagnóstico.
“O primeiro passo para o tratamento da dor é fazer uma avaliação minuciosa”, começa por dizer Armando Barbosa, especialista na terapêutica da Dor.
“Para se medir a intensidade da dor, há escalas específicas. As mais utilizadas são a Escala Visual Analógica (EVA) e a Escala Visual Numérica (EVN)”, através das quais o paciente pode dar uma ideia da intensidade da sua dor. “Num extremo está a condição sem dor ou dor «zero». No extremo oposto, a pior dor que a pessoa já sentiu, ou dor «dez»”, esclarece o Diretor Clínico da Paincare.
Por outro lado, pode recorrer-se à Escala de Qualidade de Vida, que consiste num questionário com 36 itens, “que aborda diferentes dimensões da vida da pessoa, como a capacidade funcional e estado geral de saúde, além de aspetos físicos, emocionais e sociais”.
Caso seja necessário, o médico especialista poderá recorrer a exames complementares de diagnóstico como análises, Tomografia Computorizada (TAC) ou Ressonância Magnética.
De acordo com Armando Barbosa, é ainda possível realizar uma técnica de diagnóstico inovadora que consiste na anestesia temporária de algumas zonas, de modo a identificar a verdadeira causa da dor. “Para isso usamos métodos de imagem avançados como ecografia, TAC ou fluoroscopia”, adianta.
Podendo ser classificada como Aguda, Crónica ou Recorrente, de acordo com o tempo de duração, a dor apresenta diferentes características.
A dor aguda corresponde a uma resposta normal, prevísivel e de curta duração, do organismo a uma agressão, cirurgia, traumatismo ou doença.
A dor crónica define-se por persistir por um período superior a três ou seis meses, ou “quando se mantém para além do período de cicatrização ou cura provável da doença”.
Já a dor recorrente partilha algumas caraterísticas com a dor aguda e a dor crónica. “Quando surge por episódios, de uma forma intermitente, criando um ciclo que intercala fases de dor com outros completamente livres de sintomas, durante um longo período de tempo”, explica o médico.
Dor crónica responsável por depressão e reforma antecipada, também afeta crianças
Sendo mais frequente no sexo feminino, a dor crónica afeta de forma muito negativa a qualidade de vida de quem dela padece.
De acordo com o especialista Armando Barbosa, quase 50% das pessoas com dor crónica são afetadas “de forma moderada ou na grave nas atividades domésticas e laborais”.
“Estudos indicam que 4% dos indíviduos perderam o emprego e 13% tiveram mesmo a reforma antecipada por causa da dor”, afiança acrescentando que a depressão afeta 17% dos casos . “Mais de 20% disseram que não tinham prazer na vida a maior parte do tempo ou sempre”, esclarece.
As causas mais frequentes da dor crónica são, sobretudo, as doenças do aparelho musculoesquelético. “A principal causa de dor crónica são as lombalgias (dores de costas), devidas a alterações dos ossos, articulações e músculos da coluna vertebral e a outras doenças de outras articulações, como a artrose da coxa ou do joelho”, refere.
“Pensa-se que o estilo de vida sedentário, a obesidade e a falta de atividade física regular contribuem significativamente para o aparecimento deste tipo de dores”, acrescenta o diretor clínico da Paincare salientando que, “face ao envelhecimento da população com o aumento da esperança média de vida, é de esperar que o número de pessoas com dor crónica venha a aumentar no futuro”.
Osteoporose, cefaleias, dores provocadas por traumatismos ou intervenções cirúrgicas e as doenças do sistema nervoso são outras das causas de dor crónica.
Não obstante, não é só a população adulta que sofre com a patologia. Apesar de ser pouco reconhecida ou valorizada, a dor também afeta crianças.
“A dificuldade de comunicação inerente a este grupo etário, que dificulta a avaliação da dor, e por ser acreditar que as crianças sentem menos dor, pela imaturidade do seu sistema nervoso, levam a que este problema seja desvalorizado”, afirma.
Estima-se que a incidência da dor crónica na criança seja de 15%, afetando não só a sua qualidade de vida como repercutindo-se a nível do estilo de vida. “Refletindo-se, por vezes, num mau aproveitamento escolar ou incapacidade de socialização”, explica.
A dor musculoesquelética, as cefaleias, a dor abdominal crónica, a drepanocitose (anemia das células falciformes) e as neoplasias são as principais causas de dor neste grupo etário.
Tratamento precoce apresenta maior taxa de sucesso
A dor crónica pode ser curável, dependendo da causa e da precocidade do diagnóstico. “Quanto mais cedo for tratada, maior a probabilidade de sucesso”, refere o especialista que admite que a sua abordagem visa o alívio e cura da dor, através do recurso a novas técnicas de intervenção.
“A maioria dos nossos doentes tem alta da consulta por se encontrarem curados”, afirma. No entanto, não quer isto dizer que a dor não possa voltar a surgir noutro local para além do tratado.
“O nosso corpo está em constante alteração e, infelizmente, num processo degenerativo contínuo que leva a que surjam novas alterações da coluna e de outros órgãos que podem provocar dor”, justifica.
De acordo com Armando Barbosa, especialista na terapêutica da dor, existem vários tratamentos para a dor.
Numa primeira fase, podem utilizar-se analgésicos ou anti-inflamatórios e recorrer-se à fisioterapia.
“Caso as queixas não regridam pode-se optar por outras técnicas terapêuticas consoante a causa da dor”, adianta.
A Ozonoterapia, por exemplo, trata-se de uma técnica percutânea que pode ser indicada para o tratamento da hérnia discal, e na qual “o gás ozono é injetado, através de uma agulha de pequeno calibre, infiltrando-se, tanto a nível do núcleo do disco como a nível dos músculos paravertebrais, favorecendo a sua rehidratação e a redução do conflito disco-radicular, eliminando a sensação de dor”.
“O ozono é um gás seguro, não é tóxico e pode administrar-se com segurança, favorecendo o tratamento da dor e a diminuição da inflamação”, afirma Armando Barbosa.
Já a Radiofrequência é recomendada para o tratamento de artroses da coluna vertebral, síndrome golpe do coelho (quando as pessoas sofrem um acidente de automóvel ou outro que origina dores a nível do pescoço e membros superiores), instabilidade da coluna vertebral, dores pós cirúrgica da coluna ou hérnias discais.
“Após anestesia local, o médico insere uma agulha com uma ponta especial que emite radiofrequência e faz com que os nervos deixem de enviar estímulos dolorosos para o cérebro”, explica o médico.
Os resultados dependem do tipo de tratamento realizado, no entanto, alguns são imediatos.