Linfoma de Hodgkin: taxa de sobrevivência mais que triplicou nas últimas décadas
Os Linfomas (de Hodgkin ou de não Hodgkin) constituem um conjunto de doenças malignas do sangue e do tecido linfóide. As células que lhes dão origem fazem parte do nosso sistema imune, isto é, o sistema que nos protege dos agentes infecciosos, de células anormais que possam tornar-se malignas ou de qualquer substância exógena que invada o corpo. Apesar disso, e como em qualquer outro tecido, também estas células se podem tornar cancerosas e enganar as células imunes normais. Qualquer daqueles subgrupos é composto por múltiplas entidades que, no caso do LH, apresentam características clínicas e patológicas comuns e relativamente típicas.
Trata-se de uma doença rara (cerca de 1% dos cancros), mas que pode atingir qualquer idade. Ela é mais frequente nos adolescentes e adultos jovens e após os 55 anos, o que se traduz numa distribuição etária com dois picos de incidência (bi-modal).
A doença manifesta-se, geralmente, pelo crescimento de gânglios que se identificam como tumores cervicais, axilares ou inguinais. Mais raramente, o crescimento dos gânglios em locais não acessíveis ao exame direto ou pela invasão de órgãos internos pode resultar noutros sinais ou sintomas como tosse, falta de ar ou massa abdominal. Em fases mais avançadas a doença maligna induz manifestações gerais como febre, emagrecimento, suores, fadiga, prurido e raramente dor com a ingestão de álcool.
O diagnóstico consegue-se pela biópsia, isto é, retirando um fragmento ou a totalidade do gânglio. A citologia aspirativa (por vezes erradamente chamada biópsia aspirativa) não é útil para o diagnóstico do LH.
Mais raramente, quando apenas existe uma lesão tumoral nos tecidos (extra-ganglionar) ter-se-á que proceder a uma biópsia incisional, excisional ou com agulha dessa lesão (mas não uma citologia).
Após se conseguir o diagnóstico, é fundamental avaliar a extensão da doença (habitualmente chamado estadiamento) e os fatores de prognóstico. A doença localizada e com fatores de prognóstico favoráveis pode ser tratada durante menos tempo que a doença avançada.
Para avaliar os possíveis locais da doença, além do exame físico o doente terá de realizar a tomografia axial computorizada (TAC) ou um exame ainda mais sensível, a PET-CT (do inglês positron emission tomography – computed tomography). Nos doentes que não fazem PET-CT, é aconselhável a avaliação da eventual invasão da medula óssea (o órgão onde se produz o sangue e algumas células do sistema imune) com uma biópsia óssea, que se realiza nos ossos da bacia.
O tratamento do LH constitui um dos maiores sucessos da história da medicina. A taxa de sobrevivência a longo prazo (aos 5 anos) que, na maioria dos casos, significa a cura, mais que triplicou desde os anos 50, situando-se, atualmente, em mais de 80%. Nalguns subgrupos etários ela é mesmo superior a 90%.
O tratamento é realizado com recurso à quimioterapia citotóxica (QT), à radioterapia (RT) e, mais recentemente, com fármacos que ativam a imunidade, atacando diretamente as células malignas ou induzindo as nossas células normais do sistema imune a atacar aquelas.
Hoje ainda se mantém o tratamento inicial com QT e RT nas formas localizadas ou com QT mais prolongada nas formas avançadas (que também pode ser adjuvada com RT nos locais que mais resistentes à QT). A QT intensiva seguida de suporte com células mães do sangue (hematopoiéticas) previamente colhidas ao próprio doente (autólogas) tem sido utilizada há 30 anos para salvar doentes com formas recidivantes de LH. Finalmente, as modalidades de Imunoterapia estão também a ser usadas na doença recidivante. No entanto, estão a ser testadas mais precocemente na doença de mau prognóstico com resultados promissores para algumas delas.